quinta-feira, novembro 09, 2006

Três mulheres de três PPPês

"...Mais tarde, permaneci sensível apenas ao ridículo da palavra Poly, nome de gato imposto justamente a mim que os detestava. Mas aceitei ser chamado assim não só por ela mas pelos seus parentes, amigos e conhecidos que enchiam a piscina nos domingos ensolarados. Doro, o resto do nome, sílabas turvas de magia negra, ficou pairando no ar prestes a apunhalar traiçoeiramente através da boca de Ermengarda. Isso certamente aconteceria numa das manhãs em que a piscina estava cheia de velhos, jovens e crianças, tornando repugnante o mergulho naquela promiscuidade. Contudo o repugnante doro jamais atacou devido à precaução que tomei de não arredar o pé de Ermengarda, evitando assim que a voz estridente me chamasse...."

(p. 74 - Um clássico para ler num só fôlego)


Paulo Emilio sempre foi um estudioso de cinema, o maior crítico cinematográfico que já tivemos, o criador do movimento das cinematecas no Brasil, o autor de monografias clássicas sobre Jean Vigo e Humberto Mauro.
A sua livre e extraordinária imaginação sempre aspirou a algo mais, porém só no fim da vida, aos sessenta anos, escreveu os três contos longos do mencionado livro, que tratam de relações amorosas complicadas, com uma rara liberdade de escrita e concepção. No entanto, a sua modernidade serena e corrosiva se exprime numa prosa quase clássica. Translúcida e irônica, com certa libertinagem de tom que faz pensar em ficcionistas franceses do século XVIII.


Antonio Candido



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