sexta-feira, maio 11, 2007

quinta-feira, maio 10, 2007

Era um vez...

Tudo era bem normal lá em Santantônio da Lamparina.
As crianças iam para a escola enquanto os pais trabalhavam. Todos riam, se divertiam e às vezes ficavam bem tristes também. Tomavam banho, soltavam pum e tinham coceira no pé, como toda gente em qualquer parte.
Só tinha um detalhe, mínimo, insignificante, que deixava tudo com cara de esquisito e diferente: lá, o dia era escuro como a noite, e quando era noite era noite também.
Os moradores estavam acostumados. Viviam à sombra da Lua, estudavam à luz de abajur, sabiam brincadeiras de escuro: gato-mia, cabra-cega, detetive....
Os mais velhos diziam que lá sempre foi assim e que, se é assim, assim será até o fim. Sentiam-se cansados de imaginar como seria viver num lugar claro e diferente. Os mais jovens sonhavam e diziam que conhecer o Sol era o maior desejo que tinham no mundo, no universo. Um desejo infinito.
Por que ninguém pensava em se mudar dali? Porque lá havia o mais lindo luar e o mais delicioso banho de mar e um povo com um sonho incomum. Às vezes, coisas assim são suficientes para nos fazer ficar.
Num dia noite, chegou um, chegaram dois e mais três ou cinco equilibristas. Era uma família de artistas! Enquanto uns tocavam, os outros faziam lances incríveis, coisa de especialista!
Há muito tempo o vilarejo não recebia visita tão animada. Os equilibristas estavam acostumados a se apresentar até o Sol raiar e estranharam: já se sentiam cansados e nada de o dia clarear.
- O Sol não vai aparecer?
E foi assim que souberam que em Santantônio da Lamparina o dia era tão escuro como a noite e que já estavam acordados fazia dois dias e meio.
-Daí o nom e da cidade?
-Daí o nome.
-Mas por que é assim?
-Diz meu avô que o avô dele dizia que o seu tataravô ensinou que é assim porque sempre foi assim e assim será até o fim!
Os artistas acharam a aquela explicação meio fraquinha, de quem já cansou de procurar solução.
Avisaram que por cinco dias escuros e quatro noites noites treinariam um novo número exclusivo e então voltariam para o espetáculo de despedida!
Voltaram.
Voltaram com um número arriscado e sensacional de equilíbrio, coragem e precisão já visto em toda história da humanidade!
Precisaram de muita concentração. Foram subindo, um sobre o outro e sobre o outro e sobre o outro e sobre outro ainda... Até que o menino equilibrista mais levinho e muito craque, com o braço bem esticado, atingiu o céu.
Com a ponta do dedo fez um picote. Um pequeno rasgo no céu, por onde passou um facho de luz.
Era mínimo, mas suficiente para iluminar de alegria e expectativa cada santantônio-lamparinense. Podiam saber como era o Sol, a luz e o calor que vinham do céu.
Devagar o rasgo foi aumentando, sozinho, como um furo de meia velha, que vai crescendo até virar um rombo...
E um dia, Santantônio da Lamparina amanheceu toda e completamente iluminada!
Os moradores, que nem tinham venezianas e cortinas, acordaram sobressaltados com tanta luz.
Festejaram até o Sol raiar outra vez.
Até hoje, não se cansam de ver o Sol nascer e depois o Sol se pôr e de novo o Sol nascer e mais uma vez o Sol se pôr. Acham graça, agradecidos.
>:-)

Esse lindinho Conto intitulado “Se assim é, Assim Será?” é de Silvinha Meirelles - revista Nova Escola, ano 13 v.4 Edição Especial, abril de 2007.

Viver não dói????

Definitivo, como tudo o que é simples.

Nossa dor não advém das coisas vividas,
Mas das coisas que foram sonhadas
E não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer,
Apenas agradecer por termos conhecido
Uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso
E que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.
Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos
O que foi desfrutado e passamos a sofrer
Pelas nossas projeções irrealizadas,
Por todas as cidades que gostaríamos
De ter conhecido ao lado do nosso amor
E não conhecemos,
Por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
Por todos os shows e livros e silêncios
Que gostaríamos de ter compartilhado,
E não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade.
Sofremos não porque

nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe

é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu,

mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos,

mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras
nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.

O sofrimento é opcional.
Fé é colocar seu sonho à prova!

Carlos Drummond de Andrade


segunda-feira, maio 07, 2007

lembranças

Ando devagar porque já tive pressa
e levo esse sorriso porque já chorei demais...
Hoje me sinto mais forte,
mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei, ou nada sei..
Conhecer as manhas e as manhãs
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumpri a vida seja simplesmente
compreender a marcha ir tocando em frente
como um velho boiadeiro
levando a boiada eu vou tocando os dias
pela longa estrada eu vou, estrada eu sou
conhecer as manhas e as manhãs
o sabor das massas e das
É preciso amor pra poder pulsar
preciso paz pra poder sorrir
preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia,
todo mundo chora
um dia a gente chega
no outro vai embora
cada um de nós compõe a sua história
cada ser em si carrega o dom de ser capaz
ser feliz...
Conhecer as manhas e as manhãs
sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Ando devagar porque já tive pressa
e levo esse sorriso porque já chorei demais
cada um de nós compõe a sua história
cada ser em si carrega o dom de ser capaz

de ser feliz...

Tocando em frente

Almir Sater e Renato Teixeira