sexta-feira, março 16, 2007

Este é o prólogo

Deixaria neste livro toda a minha alma.
Este livro que viu as paisagens comigo
e viveu horas santas.
Que pena dos livros que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas e lentamente passam !
Que tristeza tão funda é olhar os retábulos
de dores e de penas que um coração levanta !
Ver passar os espectros de vida que se apagam,
ver o homem desnudo em Pégaso sem asas,
ver a vida e a morte, a síntese do mundo,
que em espaços profundos se olham e se abraçam.
Um livro de poesias é o outono morto:
os versos são as folhas negras em terras brancas,
e a voz que os lê é o sopro do vento
que lhes incute nos peitos
- entranháveis distâncias.
O poeta é uma árvore com frutos de tristeza
e com folhas murchas de chorar o que ama.
O poeta é o médium da Natureza
que explica sua grandeza por meio de palavras.
O poeta compreende todo o incompreensível
e as coisas que se odeiam, ele, amigas as chamas.
Sabe que as veredas são todas impossíveis,
e por isso de noite vai por elas com calma.
Nos livros de versos, entre rosas de sangue,
vão passando as tristes e eternas caravanas
que fizeram ao poeta quando chora nas tardes,
rodeado e cingido por seus próprios fantasmas.
Poesia é amargura, mel celeste
que emana de um favo invisível que as almas fabricam.
Poesia é o impossível feito possível.
Harpa que tem em vez de cordas corações e chamas.
Poesia é a vida que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva sem rumo a nossa barca.
Livros doces de versos
sãos os astros que passam pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu suas estrofes de prata.
Oh ! que penas tão fundas e nunca remediadas,
as vozes dolorosas que os poetas cantam !
Deixaria neste livro toda a minha alma...

Federico Garcia Lorca

quarta-feira, março 14, 2007

Desejos

Desejo a você:
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito, muito carinho meu.

Carlos Drummond de Andrade


...no nosso coração


"...Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira,
no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários."
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, março 12, 2007

Dia do Bibliotecário

Viva o Manuel!!!!!
E o Manuel que era da Eletricidade, e nada tinha a ver com a imortalidade
dos livros, dos escritos...
Afinal criou o dia ...
dia de quem ama, de quem respira e de quem se fascina..
dia dos livros
dia de quem cuida deles ..
dia do Saber ..

Porque, nada pior, nada mais triste,
Do que viver no pequeno mundo
Da ignorância, do desconhecer.
PATRONO DA SEMANA NACIONAL DA BIBLIOTECAPOR QUE 12 DE MARÇO?
Manuel Bastos Tigre - Escritor, (poeta e prosador), engenheiro, jornalista e bibliotecário, nasceu em Recife, Pernambuco, a 12 de março de 1882 e faleceu em 2 de agosto de 1957 no Rio de Janeiro.
Freqüentou, aos cinco anos de idade, a Aula Pública Mista da Rua Santo Elias, no Recife, e em seguida, o Colégio Diocesano da histórica Olinda, revelando, desde cedo, seu talento literário na composição de odes cívicas e sonetos humorísticos, onde mestres e colegas eram satirizados. Líder estudantil encabeçou movimento em prol da obrigatoriedade de ensino, campanha que viria trazer inestimáveis serviços a população.
Formou-se engenheiro civil, em 1906 na Escola Nacional de Engenharia, no Rio de Janeiro. Mais tarde especializou-se em eletricidade nos Estados Unidos, onde permaneceu cerca de três anos, diplomando-se pela Bliss School de Washington. Regressando, trabalhou como engenheiro do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil.
Da sua vida universitária e de uma época trepidante do Rio de Janeiro, tudo revelou, através de seus poemas satíricos, um prenúncio de seu extraordinário humorismo. Sua vida de jornalista iniciou-se em 1902, quando colaborou na revista humorística “Tagarela”.
Prestou depois seus serviços nos principais órgãos da imprensa carioca como: “A Noite”, “Gazeta de Notícias”, “A Rua”, “Careta”, “O Malho”, etc. . Foi fundador da revista “D. Xiquote”. No “Correio da Manhà”, manteve durante mais de 50 anos, “Pingos e Respingos”, uma das mais conhecidas seções da imprensa citadina, na qual, glosava com sadio humor, os fatos pitorescos do Rio, do país e até do mundo. (Usava, então, o pseudônimo Cyrano e Cia).Emilio de Menezes introduziu-o nas rodas literárias do Rio Antigo, o que o fez tornar-se grande amigo de Olavo Bilac, Martins Fontes, Guimarães Passos, Plácido Junior, Henrique de Orlando e outros. Suas atividades como escritor, fizeram-no conquistar o 1O. Prêmio de Poesias da Academia Brasileira de Letras, com a obra “Meu Bebê”.
Deixou, como poeta, uma bela obra educativa, dedicada à infância. Sob o pseudônimo de “D. Xiquote” publicou muitos livros de versos humorísticos: Saguão da Posteridade, Poesias Humorísticas, Versos Perversos, Moinhos de Vento, etc. Ocupou ainda o cargo de Inspetor Federal do Ensino Secundário. Foi primeiro como “publicitário”. Com dignidade e muito raciocínio, foi mestre e fez escola nesta moderna arma de negócios: a publicidade. Criou vários slogans publicitários que, ainda hoje, são usados e que ficarão para sempre na lembrança do povo.
Bastos Tigre amava os livros e não podia viver sem eles. Por volta de 1915 devotou-se inteiramente aos livros, não mais abandonando as estantes das bibliotecas.
Inscreveu-se no 1o. Concurso realizado em nosso País para o cargo de Bibliotecário conquistou brilhantemente o 1o. Lugar, demonstrando seus autênticos conhecimentos da técnica da Biblioteconomia, quando da apresentação da tese sobre a aplicação do Sistema de Classificação Decimal, na organização lógica dos conhecimentos em trabalhos de Bibliografia e Biblioteconomia. Como Bibliotecário serviu no Museu Nacional depois na Biblioteca da Associação Brasileira de Imprensa e finalmente na Biblioteca Central da Universidade do Brasil, onde exerceu o cargo de 1o Diretor.
Trabalhou por mais de 20 anos quando a morte veio interromper a sua magistral carreira. Decano dos Bibliotecários brasileiros foi agraciado com uma das maiores distinções da classe, sendo-lhe conferido o premio “Paula Brito” ou Premio Gutenberg” e a Resolução no. 5 de 11 de março de 1958 do Poder Legislativo do Distrito Federal, que instituiu o Dia do Bibliotecário, a 12 de março, data de seu nascimento. Pelo carinho que dedicava aos livros foi escolhido para Patrono da Semana da Biblioteca, escolha esta oficializada pelo Decreto Federal no. 884 de abril de 1962. Como Bibliotecário, Bastos Tigre foi um homem feliz e plenamente realizado.
A Biblioteconomia foi realmente a sua carreira profissional. Seu grande entusiasmo e confiança no poder do livro é expresso nesta sua frase: Veículo de idéias, que trouxe o passado até o presente, levará o presente ao infinito dos tempos.
Fonte: Informativo CRB-10, Porto Alegre, v. 11, n. 32, p.7, fev. 1998.
Versinho: I.Volpi