segunda-feira, fevereiro 12, 2007

O Verão e as Rosas


“...O sol estourou a pintura azul colonial no peitoril da janela. Um prato de louça trincado. Um pára-brisa espatifado (o do meu carro, quando passava por debaixo de um viaduto). No azul do peitoril, velhos rios brancos se reabrem para a luz do sol e ganham corpo pelas rachaduras. A dor do dia nada teve a ver com o azul dos ladrilhos no piso do banheiro. Tem tudo a ver com as dez luas quarto minguantes que brilharam passageiramente no azul dos ladrilhos. A dor do dia nada tem a ver com o azul colonial do céu de janeiro. Tem tudo a ver com os velhos rios brancos que se reabrem para a luz do sol no azul do peitoril. A dor sempre foi boa companheira. Mas em nada por nada boazinha. Ela tem tudo a ver com o sol de verão. O sol a pino racha ao meio o ambiente como um machado afiado, a tora de madeira. Para servir de lenha na fogueira da tarde..."

Silviano Santiago
21 Históris de amor
p.51

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