segunda-feira, outubro 29, 2007

Dia Nacional do Livro




O futuro do livro na era digital











Muitas perguntas rodam no ar ainda sem resposta: o que muda na produção e na comercialização do livro com o avanço dos meios eletrônicos?

A Internet estreita ou alarga o futuro das livrarias? O texto depende ou não do formato que envolve? Veja a seguir qual o futuro do livro na era digital.As discussões sobre o futuro do livro de papel começaram no País há mais de seis anos, logo quando a Internet chegou por aqui. Nesta época, nos Estados Unidos, já se falava no Projeto Gutemberg (1971), uma iniciativa de colocar online, e gratuitamente, títulos de domínio público. Desde então, os famosos ebooks, livros eletrônicos ou livros digitais são acusados de serem os "assassinos" do livro de papel. E não seria para menos.

No site Virtual Books, por exemplo, encontram-se desde clássicos como Romeu e Julieta, tradicionais obras como a Bíblia até teses de mestrado. Até o primeiro capítulo do novo livro de Paulo Coelho, o O Demônio e a Srta. Prym já está disponível gratuitamente.O Virtual Books, como outras livrarias online, oferece várias formas de leitura. O usuário pode ler a obra através de páginas na web (enquanto está conectado à rede) ou ainda pode "baixar" em seu computador um arquivo com o livro completo e, depois, imprimir e ler offline.

Virtual Books: livros grátis para todos os gostos

Há ainda a possibilidade de fazer download do arquivo direto para um Rocket e-Book, um aparelho de leitura lançado há dois anos durante a Feira de Frankfurt. A maquineta não assusta as vovós: possui poucos e óbvios botões, como o de avançar ou de voltar página, e o recurso de fazer anotações, marcar trechos e pesquisar palavras. Além de apresentar fontes que podem ser ampliadas. O Rocket e-Book é leve (pesa 600 gramas e tem formato de livro de bolso) e pode armazenar até 4 mil páginas de textos e imagens em um formato parecido com o dos livros convencionais de 250 páginas. Isso possibilita a existência vários livros no mesmo aparelho. Vale lembrar seu preço: quase US$ 300. Se está curioso para ver se consegue se adaptar ao dispositivo sem traumas é possível fazer um teste através de um software disponível na Internet que possui a mesma aparência e funcionalidade do equipamento disponível nos EUA. O original, por enquanto, só pode ser comprado, no Brasil, através da Amazon. Uma versão mais moderna ainda do dispositivo vem pipocando no mercado yankee a modesta quantia de $ 700: a novidade fica por conta da tela de cristal líquido e a possibilidade do uso de cores no display. Existem também os livros eletrônicos pagos, que podem ser lidos de formas semelhantes. O leitor localiza sua escolha pela Internet, pede uma cópia e lê um número limitado de páginas (no computador ou Rocket e-Book). Se gostar confirma a compra e recebe uma senha para download, após o pagamento da obra. "Riding The Bullet", de Stephen King, foi o primeiro livro eletrônico de que se tem notícia. Trata-se de um folhetim cujos capítulos são baixados mensalmente. Quem gostar do que leu, paga, quem não gostar, não paga. Logo de cara a "invenção" vendeu 500 mil cópias. O autor se gabava orgulhoso de que caso mais de 70% dos leitores não pagasse, a obra pararia de ser produzida. A parte engraçada é que a possibilidade remota virou fato e, até agora, Stephen King não se pronunciou sobre o assunto. Made in Brasil
Prata:"O livroé meu"No Brasil, o escritor Mário Prata, autor de O Diário de um Magro e 100 Crônicas, entre outros, tem um site (no Terra) onde os internautas podem vê-lo escrevendo linha por linha, de seu e-book, "Os Anjos de Badaró", em tempo real, e de graça. O escritor esclarece no site: "O livro é meu. Não é um Você Decide". Observado de forma indireta, pela tela do computador, o autor escreve um capítulo por dia, até o dia 5 de novembro, data em que o site sai do ar. A brincadeira rendeu até a criação de um outro site por apaixonados por literatura que acompanham todos os capítulos de Os Anjos... e quando o Prata acaba de escrever se reúnem para debater, num espaço do site chamado "palpite". São os "Anjos do Prata": pessoas com idades variadas mas uma paixão em comum: o escritor mineiro. A experiência cibernética não impediu Prata de causar polêmica ao defender sua opinião sobre o futuro do livro e anunciar outra morte: "o livro eletrônico acabou. Não deu certo. Fez parte de uma experiência que não vingou. Quem você conhece que lê esse tipo de livro? Foi uma coisa de momento. Um experimento de quando a Internet era jovem". Prata explica que a rede é rica em outras coisas, até mesmo na literatura, mas não em se tratando dos e-books. Mas mesmo assim afirma Ter sido uma experiência fenomenal: "quero fazer um livro contando a experiência de ter escrito Os Anjos... e publicar junto as 35 crônicas que venceram o concurso do site". Prata diverte-se com a diferença de idade entre os escolhidos: "tem uma senhora de 65 anos e um menino de 16". O melhor de tudo isso foi ser um estímulo para o pessoal: "as pessoas puderam ver que eu sou gente. Gente igual a elas. Que vou ao banheiro. Reclamavam que eu escrevia sério coisas engraçadas. É que eu acho amadorismo rir e chorar quando escreve". A diferença é que antes ele não precisava de maquiagem e iluminação para escrever. "Podia ser desleixado. Não precisava fazer a barba", diverte-se. Até o final do ano o livro deve ser lançado em papel e, ao contrário do que se imagina, Prata acha que a Internet vai fazer aumentar as vendas da experiência em papel: "quase 300 mil pessoas passaram pelo site durante a história, mas pouca gente acompanhou tudo", diz. Ele mesmo não tem paciência de ler coisas na Internet. Defende que a literatura exige um certo ócio: repouso físico, satisfação física. "Eles tem um saco de Prata", brinca. E-books prêmiados No último dia 21 de outubro, a Feira de Frankfurt entregou, pela primeira vez, o Prêmio Internacional do Livro Eletrônico, avaliado em US$ 100 mil. A idéia da premiação é destacar autores, agentes literários e editoras que incentivem este novo meio editorial. Os vencedores do "e-book award" foram dois autores americanos: E.M. Schorb e David Maraniss, por seus livros Paradise Square e When Pride Still Mattered. Schorb ganhou na categoria Literatura, enquanto Maraniss, co-editor do Washington Post, foi reconhecido pela obra que ficou por cinco semanas na lista dos best-sellers no New York Times. "Longe do livro de papel a complexidade será deixada de lado"
As vantagens dos livros eletrônicos são muitas. São mais baratos e não representam prejuízo para o editor: não se corre o risco de encalhes e não se tem de pagar distribuidores.
Raul: "O livro de papel nunca vai sumir"O meio que os envolve, a rede, também oferece a possibilidade de encontrar livros raros e fora de catálogo ou ainda descobrir um livro só pelo nome (sem o autor e a editora). Representa um ponto de encontro de editores. Ajuda a comercializar direitos e traduções. Aumenta a velocidade de circulação da informação, apresentando-se como uma forma prática e barata de distribuir o conhecimento. Dá retorno mais rápido. Possui maior alcance: pode chegar aonde não existem livrarias. Democratiza a informação: em um mês 50 mil pessoas visitam pessoalmente as instalações da Biblioteca de Nova York. Pela Internet este número chega a um milhão. Além de privilegiar um conteúdo mais atual e substituir a celulose, muito cara atualmente.

As desvantagens são óbvias também. Bill Gates, por exemplo, prefere imprimir tudo que tenha mais de 4 páginas para ler depois. Talvez porque ler na "tela" cansa. Porque fica mais difícil lembrar do que leu. Ou porque é mais complicado se concentrar desta forma. Para o escritor de histórias infantis, Ziraldo, o livro tem que ter cheiro de tinta. Ele afirmou em debate na Academia Brasileira de Letras, sobre o futuro do livro, no dia 29 de agosto, que fez muitos de seus livros pensando em seu formato. Eduardo Portella, presidente da Fundação Biblioteca Nacional e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), apoiou: "longe do livro de papel a complexidade será deixada de lado".

Não se sabe ao certo o número de livros eletrônicos disponíveis no Brasil. Para o presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL) essa estatística é irrelevante. "Não há volume suficiente para captar estes dados no Brasil", afirma Raul Wassermann. O que o brasileiro gosta de ler Para apimentar a discussão aparecem as estatísticas das vendas de livros de papel exibindo queda de quase 30% de 1998 para 1999, segundo pesquisa da CBL sobre a indústria editorial brasileira. O número de títulos e exemplares produzidos caiu devido a crises econômicas, à disparidade entre o dólar e o real (fato que congestionou as gráficas nacionais, uma vez que não era mais vantagem imprimir no exterior) e à falta de criatividade para venda. O faturamento também caiu, por causa dos preços mais acessíveis dos livros. A CBL utiliza para pesquisa a divisão do mercado em subsetores: científicos, técnicos e profissionais (o único a aumentar o número de exemplares produzidos), didáticos (apesar de metade do faturamento do setor repousar na venda destes livros, também houve queda em 1999), religiosos (também demonstrando queda nas vendas e na produção), e obras gerais (mais atingidas por causa da queda das vendas para o Programa Nacional de Biblioteca Escolar e dos custos com papel e formato do livro). Em um caminho inverso vêem subindo a ladeira os livros de auto-ajuda e os infantis. Apesar dos primeiros não existirem para o presidente da CBL, pois "trata-se de um conjunto de categorias inventadas pelos americanos, que nós juntamos no mesmo saco e chamamos de auto ajuda", é notável o crescimento de vendas desse tipo de ajuda aos "perdidos".Menos polêmicos os livros infantis existem, sim, e são responsáveis por 14% da produção literária brasileira , considerada uma das mais criativas do mundo: engajada, envolvente e divertida.Os dados da pesquisa deste ano só estarão disponíveis no início do ano que vem, mas não há pretensão de aumento considerável nas vendas: "se recuperarmos os 30% perdidos já está bom", lamenta o presidente. O que impede a desanimação total é o aumento da população, o investimento do governo em educação através do programa do livro didático e o incentivo da utilização de livros não didáticos nas escolas. Mulheres lêem maisAs preferências do leitor ainda são um mistério: sabe-se vagamente que as mulheres, as pessoas com faixa etária entre 20 e 40 anos e com renda entre 3 e 10 salários mínimos lêem mais. O Brasil amarga o número de dois livros lidos ao ano, por habitante, desde os 10 anos de idade. Mas esta é uma média não muito confiável, pois inclui os livros didáticos e os livros de leitura obrigatória para a escola. Se desprezarmos esses dois e considerarmos só os livros escolhidos pelo próprio leitor (sem ameaça de forca) teremos o ridículo resultado de menos de um livro por ano. Uns dizem que é porque os pais não lêem, portanto não repassam esse hábito a seus filhos, outros defendem que as pessoas deste final de milênio preferem atitudes mais passivas, que não dêem tanto trabalho ao intelecto. Para jogar um pouco de luz neste cenário obscuro está sendo realizada, até o final de dezembro, a primeira grande pesquisa sobre o hábito de consumo de livros no território nacional. A pesquisa levará em conta leitura, aquisição e posse dos livros de papel. Trata-se de um questionário longo distribuído para "leitores" e "não leitores". O resultado será divulgado no começo do ano que vem. Apesar do ministério da cultura ter se recusado a financiar o projeto, como o de Portugal, alegando ser de interesse comercial, a pesquisa está sendo financiada pela CBL e pela Associação Brasileira de Celulose e Papel (Brascelpa). "O que deve nos preocupar é o pensamento único "O fato é que lê-se pouco. O livro, de pano, pedra, papel, ou digital, é só um instrumento. É inútil desperdiçar forças lutando contra o desenvolvimento de novas tecnologias, quando a prioridade deveria ser tornar o livro mais acessível e atraente. Carlos Heitor Cony apoia esse desenvolvimento. Em debate na Academia Brasileira de Letras lembrou que as tábuas em que Moisés gravou os 10 mandamentos não formavam um livro como conhecemos hoje e que o livro de Isaías, guardado no Palácio do Livro em Jerusalém, também não é um livro, mas sim um rolo. "São formas de manter e acumular os textos que o homem criou". Cony acredita ainda que no futuro pode haver um único livro capaz de ler todos os livros. Francisco Delich, dirigente da Biblioteca Nacional e da Universidade Latino-americana de Ciências Sociais, em debate da ABL, pontuou com sabedoria a discussão: "o que deveria preocupar é o pensamento único, esse, sim, é o grande inimigo do livro, ao pôr fim a todos os debates". João Ubaldo Ribeiro, com o seu Miséria e Grandeza do Amor de Benedita, que levou para casa o troféu de "inédito na terra de Cabral" , declarou em entrevista ao Estado de S. Paulo, em 29 de agosto, que não crê na imortalidade do livro de papel encadernado: "e se acabar, ou eu escrevo no meio, ou não escrevo". A grande maioria defende mesmo a coexistência entre "assassino" e "assassinado", sem o crime chegar as vias de fato. "Os dois formatos vão conviver", defendeu Portella, em entrevista ao Estado de São Paulo, no dia 29 de agosto. Joelmir Beting explica: "micros e livros não são excludentes ou alternativos. Ele são complementares ou aditivos". E o presidente da CBL concorda: "será mais um canal. Vai ajudar. Tem mercado para todos". Principalmente quando se trata de estilo. Segundo o presidente da Associação Alemã de Editoras e Livrarias, Roland Ulmer (durante lançamento da Feira de Frankfurt, na Alemanha, no dia 17 de outubro) certos estilos se adequam ao papel outros à mídia eletrônica: "quando chega-se à ficção, compradores e leitores continuarão a ler nossas novelas e contos em versões impressas". Enterrado ou não, as experiências mais modernas sempre resultam em algo que imite o livro: os dispositivos de armazenamento de e-books (com tamanho de um livreto de 250 páginas), os protótipos de tela flexível (experiência do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology - MIT - que permite a leitura como se fosse papel, apenas simulando virar a página). Parece que o velho livro de papel vai nos assombrar ainda por umas boas décadas. Sérgio Rizzo, jornalista colaborador da revistas SET e do site Submarino, entre outros, argumenta: "Enquanto houver gerações que forem alfabetizadas por meio de impressos (livros, jornais, revistas), eles (os produtos impressos) não têm a menor chance de desaparecer. Daqui a 100 anos, não sei. Mas daqui a 100 anos já não estaremos mais por aqui".


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