"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Graciliano Ramos
Dia do Escritor, 25 de julho
Em 25 de julho comemora-se o dia nacional do escritor. A data tornou-se oficial em 1960, após o sucesso do I Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira de Escritores.
Quase quarenta e cinco anos depois, o dia é celebrado por todos aqueles que possuem a função de escrever ou por aqueles que, simplesmente, possuem uma paixão em comum: dar vida e cores as suas palavras.
Não obstante, questionamos o trabalho dessas talentosas pessoas nos dias de hoje. Lembremos, por exemplo, dos inúmeros escritores que não têm seus trabalhos divulgados, vivendo no anonimato e que, por esse motivo, não são reconhecidos pela sua atividade. Partindo dessa premissa, surge uma dúvida: a função do escritor é, ou alguma vez no passado, já foi considerada realmente uma profissão? Décadas atrás, quem ousasse dizer que seguia a "carreira" de escritor corria risco de sofrer qualquer tipo de preconceito e até mesmo, de ser apontado nas ruas, ouvindo comentários pouco agradáveis como "boêmio" ou "errante", pois para a sociedade da época, a atividade não era considerada uma profissão. Há ainda, casos infelizes daqueles que só tiveram seus nomes reconhecidos e obras valorizadas depois de sua morte, caso de - nada mais nada menos - James Joyce, Nietzsche e Franz Kafka.
No Brasil, podemos citar Augusto dos Anjos, poeta morto aos trinta, dois anos após publicar sua principal obra poética intitulada Eu, no ano de 1912. Esse fenômeno de fama póstuma já foi confirmado pelos próprios escritores em suas obras, como afirmou Clarice Lispector em seu livro Perto do Coração Selvagem: "Mesmo os grandes homens só são verdadeiramente reconhecidos e homenageados depois de mortos". Basta lembrarmos dos inúmeros artistas, escritores e poetas que, no século XIX, morriam precocemente devido a doenças pulmonares, principalmente por tuberculoses ou pneumonias, e que só tinham suas obras publicadas e divulgadas postumamente, como aconteceu com o simbolista Cruz e Sousa, morto aos 37, com Castro Alves, aos 24, e Álvares de Azevedo, aos 21. Nos dias de hoje, felizmente, a situação dos escritores é diferente de seus antecessores e isso não se deve apenas pelo avanço da medicina ou pela descoberta de vacinas contra a tuberculose! No contexto atual, vemos muitos autores bem aceitos pela mídia, pela crítica e menos discriminados na sociedade; tendo suas obras divulgadas mundo afora e traduzidas em outras línguas. Dan Brow é um bom exemplo disso. Sua obra Código da Vinci, apesar de temida pela Igreja e bastante criticada, atingiu o recorde de vinte e cinco milhões de cópias vendidas. No Brasil, por sua vez, destaca-se o escritor Paulo Coelho, o brasileiro com mais livros vendidos e mais prestigiado no exterior.
Comparando a situação atual desses autores com a dos nossos saudosos escritores, podemos dizer que a profissão do escritor é mais valorizada atualmente, mas isso não é o bastante. Pois sempre "por trás" de um grande talento há um "bom investimento". Em outras linhas podemos dizer que, atrás de um best-seller sempre existe uma boa divulgação, ou uma grande editora. Truman Capote, por exemplo, antes de publicar seu best-seller A Sangue Frio, publicou-o em quatro partes no jornal The New Yorker e só depois de confirmado o sucesso de sua história lançou-a em livro.
(Edvania Cardoso)
Um comentário:
Realmente, escrever algo que se queira publicar, requer trabalho, paciencia, revisões. Adoro escrever, minha profissão exige isso, mas me falta paciencia e tempo para revisões, cortes ou adições, pesquisas. Talvez seja essa umas das minhas frustrações, mas a culpa é só minha. Tenho boas idéias, me falta vontade. Um dia ainda faço uma crônica de voce, vai sair caprichada.
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