sábado, setembro 25, 2010
domingo, julho 25, 2010
José Saramago
uma pequena homenagem a um grande escritor
"...Penso e escrevo como as flores tem cor
Mas com menos perfeição no meu modo de
exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior
...E a minha poesia é natural como
levantar-se vento..."
Alberto Caeiro
sábado, julho 03, 2010
“... e ficou a observar-se atentamente, como um aprendiz de químico que misturou um ácido e uma base e agita o tubo de ensaio, não viu muito, é sempre assim se a imaginação não ajudar, o sal que daquilo resultou, já era esperado, tantos são os milênios que andamos misto de misturar sentimentos, ácidos e bases, homens e mulheres. Lembrou-se do alvoroço adolescente com que a olhara pela primeira vez, então a si mesmo insinuou que o moviam simpatia e compaixão por aquela pungente enfermidade, a mãozinha caída, o rosto pálido e triste, e depois aconteceu aquele longo diálogo diante do espelho, árvore do conhecimento do bem e do mal, não tem nada que aprender basta olhar, que palavras extraordinárias teriam trocado de seus reflexos, não pôde captá-las o ouvido, só repetida a imagem, repetido o mexer dos lábios, contudo talvez no espelho, talvez no espelho se tenha falado uma língua diferente, talvez outras palavras se tenham dito naquele cristalino lugar , então outros foram os sentidos expressos, parecendo que, como sombra, os gestos se repetiam, outro foi o discurso, perdido na inacessível dimensão, perdido também, afinal, o que deste lado se disse, apenas conservados na lembrança alguns fragmentos, não iguais, não complementares, não capazes de reconstituir o discurso inteiro, o deste lado insista-se, por isso os sentimentos de ontem não se repetem nos sentimentos de hoje, ficaram pelo caminho, irrecuperáveis, pedaços do espelho partido, a memória. Enquanto desce a escada para o primeiro andar, tremem um pouco as pernas a Ricardo Reis, nem admira, a gripe costuma deixar as pessoas assim, muito ignorantes da matéria seriamos se cuidássemos que esse tremor é efeito dos pensamentos, ainda menos daqueles que laboriosamente aí ficam ligados, não é coisa fácil pensar quando se desce uma escada, qualquer de nós pode fazer a experiência, atenção ao quarto degrau. ”
O Ano da Morte de Ricardo Reis - pg.175
'O Mestre'
José de Sousa Saramago (Azinhaga, Golegã, 16 de Novembro de 1922 — Tías, Lanzarote, 18 de Junho de 2010) foi um escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português.
sexta-feira, julho 02, 2010
sábado, maio 01, 2010
sábado, abril 24, 2010
quarta-feira, abril 21, 2010
sustentabilidade
Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana.
Propõe-se a ser um meio de configurar a civilização e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na manutenção indefinida desses ideais.
A sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde a vizinhança local até o planeta inteiro.
Para um empreendimento humano ser sustentável, tem de ter em vista 4 requisitos básicos. Esse empreendimento tem de ser:
- ecologicamente correcto;
- economicamente viável;
- socialmente justo; e
- culturalmente aceito.
saiba mais aqui:
sábado, março 27, 2010
passerà
la canzione non se scrivono
Mas nascono da sé
Son le coze che succedono
Ogni giorno in torno a noi
Le canzione basta coglierle
Ce n'é una anche per te
Che fai piú fatica a vivere
E non sorridi mai
Le canzione sono zingare
e rubano poesie
Sono ingani come pilole
Della felicità
Le canzone Nom guariscono
Amore e mallatie
Ma quel piccole dolore
Cue l'esestere ci dà
Passerá, passerá
Se um ragazzo e una chittara sono li,
Come te, in cittá
Passe´ra, passerá
A guardade questa vita che non va
Che ci amassa d'illisioni
E con l'etá delle canzoni
Passerá, su di noi
Finiremo tuti in banca prima o poi
Coi perchè, ia chissà
E le angoscie di una rica povertà
A parlare degli amori che non hai
A cantare una canzione che non sai come fa
Perchè l'hai perduta dentro
E ti ricordi solamente
Passerá
In un mondo di automobile
E di gran velocità
E per chi arriva sempre ultimo
E per chi dice addio
Perchi sbatte negli ostacoli
Della diversità
Le canzoli sono lucciole
Che cantano nel buio
Passerá primo poi
Questo piccolo dolore che c'é in te
Che c'é in me, che c'é in noi
E ci fa sentire como marinae
In balia del vento e della nostalgia
A cantare una canzione che non sai
Come fa
Ma quel piccolo dolore che sia odio, o che sia amore
Passerà
Passerá, passerà
Anche se farai
Soltanto la la la
Passerà, passerà
E a qualcosa una canzone servirà
Se il tuo piccolo dolore
Che sia odio, o che sia amore
Passerà...
Passerà
Renato Manfredini Jr (Renato Russo)
27/03/60-11/10/96
terça-feira, março 23, 2010
segunda-feira, março 22, 2010
Água - fonte de vida
Água esperança
Água que mata a sede
Água que molha a planta.
Água que brota da terra
Água que sai do chão
Água que molha o trigo
Trigo que faz o pão.
Água que sangra das pedras
Água que vem da natureza
Água que nos dá alegria
Água que revigora a beleza.
Água que rola da serra
Água que jorra do chão
Água que enche rios
Água que transborda ribeirões
Água que enche lagos
Água que enche lagoas
Água que corre para o mar
Água que corre á toa.
Água que move moinhos
Água que faz girar
Água que não descansa
Água que faz navegar.
Água nossa de cada dia
Água que nos dá energia
Água que nos dá calor
Água que nos procria.
Água de cada dia
Água da nascente
Água que cria a gente
Água que nos faz respirar
Água que sai da terra
Água que sai do ventre das matas
Que cai das cascatas.
Água fonte de vida
Água que brota dos córregos
Água que jamais voltará
Água nossa de cada dia
poema de Maria da Conceição do Amparo- Ipiaú BA
http://www.pucrs.br/mj/poema-natureza-97.php
sexta-feira, março 12, 2010
terça-feira, março 09, 2010
domingo, fevereiro 28, 2010
sábado, fevereiro 27, 2010
quarta-feira, janeiro 27, 2010
I have a dream
I song to sing
To help me cope
with anithing
If you see to wonder
of a fairy tale
You can take the future
even if you fail
I believe in angels
something good in
everthing I see
I believe in angels
When I know the time
is right for me
I'll you cross the stream
I have a dream
I have a dream
a fantasy
to help me trought
reality
and my destination
make it worth the wile
pushing throught the darkness
still another mile
I believe in angels
something good in
everthing I see
I believe in angels
when I know the time
Is right for me
I'll cross the stream
I have a dream
song writers ABBA
sexta-feira, janeiro 22, 2010
Pense no Haiti
Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
Picture taken from UNICEF web site
Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil
terça-feira, janeiro 05, 2010
6 de janeiro festa de Folia de Reis
A Folia de Reis é uma festa religiosa de origem portuguesa, que chegou ao Brasil no século XVIII. Em Portugal, em meados do século XVII, tinha a principal finalidade de divertir o povo, enquanto aqui no Brasil, passou a ter um caráter mais religioso do que de diversão.
No período de 24 de dezembro, véspera de Natal, a 6 de janeiro, Dia de Reis, um grupo de cantadores e instrumentistas percorre a cidade entoando versos relativos à visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. Passam de porta em porta em busca de oferendas, que podem variar de um prato de comida a uma simples xícara de café.
A Folia de Reis, herdada dos colonizadores portugueses e desenvolvida aqui com características próprias, é manifestação de rara beleza. Os reciosos versos são preservados de geração em geração por tradição oral.
A Folia de Reis, herdada dos colonizadores portugueses e desenvolvida aqui com características próprias, é manifestação de rara beleza. Os reciosos versos são preservados de geração em geração por tradição oral.
Os instrumentos utilizados são: viola, violão, sanfona, reco-reco, chocalho, cavaquinho, triângulo, pandeiro e outros instrumentos.
Os personagens somam doze pessoas e todos os integrantes do grupo trajam roupas bastante coloridas, sendo eles: Mestre, Contra-Mestre, os Três Reis Magos, Palhaço e Foliões.
1.O Mestre e Contra-mestre: donos de conhecimentos sobre a manifestação, são aqueles que comandam os foliões.
2.O Palhaço: com seu jeito cínico e dissimulado, deve proteger o Menino Jesus, confundindo os soldados de Herodes. O seu jeito alegre e suas vestimentas coloridas são responsáveis pela distração e divertimento de quem assiste à apresentação. Representando o Mal, usa geralmente máscara confeccionada com pele de animal e vai sempre afastado um pouco da formação normal da Folia, nunca se adiantando à "bandeira". Apesar de seu simbolismo, é personagem alegre, que dança e improvisa versos, criando momentos de grande descontração.
3. Os Foliões: grupo composto de homens simples, geralmente de origem rural; são os participantes da festa que dão exemplo grandioso através de sua cantoria de fé.
4. Os Reis Magos: os Três Reis Magos fazem a viagem da Esperança, certos de encontrarem sua estrela.
4. Os Reis Magos: os Três Reis Magos fazem a viagem da Esperança, certos de encontrarem sua estrela.
Até há pouco, podia-se ouvir ao longe ou, com sorte, encontrar, vindo de bairro distante, um grupo especial de músicos e cantadores, trajando fardamento colorido, entoando versos que anunciam o nascimento do Menino Jesus e homenageiam os Reis Magos. Trata-se, naturalmente, da Folia de Reis que, no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, Dia de Reis, peregrina por ruas à procura de acolhida ou em direção a algum presépio.
Com sanfona, reco-reco, caixa, pandeiro, chocalho, violão e outros instrumentos, seguem os foliões pela noite adentro em longas caminhadas, levando a "bandeira" (estandarte de madeira ornado com motivos religiosos), a qual tributam especial respeito. Vão liderados por mestre e contra-mestre, figuras de relevância dentro da Folia por conhecerem os versos - são os puxadores do canto.
"Era meia-noite em ponto
Bateu asa e cantou o galo
Bateu asa e cantou o galo..."
"Que Jesus dê vida e saúde
Só voltamos para o ano
Só voltamos para o ano..."
Os foliões cumprem promessa de, por sete anos consecutivos, saírem com a Folia e arrecadar em suas andanças donativos para realizarem anualmente, no dia 20 de janeiro, Dia de São Sebastião, festa com cantorias e ladainhas.Durante a caminhada, é carregada a "bandeira" do grupo, um estandarte de madeira enfeitado com motivos religiosos.
O ponto alto da festa se dá quando dois grupos se encontram.
Juntos, eles caminham em direção ao presépio da festa, o ponto final da caminhada.
"Ó di casa, ó di fora
Qui hora tão excelente
É o glorioso santo Reis
Qui é vem do Oriente
Ó de casa, ó de casa
Alegra esse moradô
Que o glorioso santo Reis
Na sua porta chegô
Aqui está santo Reis
Meia-noite foras dóra
Procurou vossa morada
Pedino sua ismola
Santo Reis e Nossa Senhora
Foi passeá em Belém
São José pediu ismola
Santo Reis pede também
ismola que vóis dá
Nois viemo arrecebê
O glorioso santo Reis
É quem vai agradecê
Santo Reis pede ismola
Não é ouro nem dinhêro
Ele pede um agitoru
Um alimento pros festero
Sôr dono da casa
Vem abri as portaria
Recebê santo Reis
Com sua nobre folia
Sôr dono da casa
Alevanta e cende a luz
Vem a ver santo Reis
O retrato de Jesus
Paremo na sua porta
Com oro na balança
Aqui tamo a sua espera
Da sua determinança
Deus te sarve casa nobre
Nos seus posto tão honrado
Ande mora gente nobre
Que de Deus é visitado
Deus o sarve a luz do dia
Deus o sarve a claridade
Deus o sarve as três pessoa
Da Santíssima Trindade
Deus o sarve as três pessoa
Com a sua santidade
É três pessoa divina
Aonde nasce a divindade
O sinal da Santa Cruz
É principo de oração
É o principo desse canto
Desta rica invocação
Deus te sarve oratóro
É coluna que Deus fez
Hoje tá visitado
Do gloriosoSanto Reis
Deus te sarve oratóro
Cum todo seus ornamento
Deus te sarve as estampinha
E as image qu’estão dentro
Deus te sarve as image
As pequena e as maió
Numa rica divindade
Sincerra em uma só
Sôr dono da casa
Alegra seu coração
Arreceba santo Reis
Com todo seus folião
Santo Reis desceu do céu
Cortano vento nas asa
Vei pedi um agasaio
Para o dono desta casa
Santo Reis e vem girano
Cançadim do trabaio
Procurô vossa morada
Pra pedi um agasaio
Santo Reis veio voano
Nos are fez um remanso
Procurô sua morada
Pra fazê o seu descanso
Sôr dono da casa
Muito alegre deve está
Do glorioso santo Reis
Hoje vei lhe avisitá
Concluímo este canto
Fazeno o siná da cruz
Pade, Fio, Esprito Santo
Para sempre, amém Jesus".
"Santos Reis vai despedindo
Deixando muita saudade.
Vai deixando muita benção
Pro povo desta cidade."
O restante desse texto você encontra no delicioso blog da Prof. Silvana Nunes:
"Foi desse jeito que eu ouvi dizer..." tem receitinha de bolo, simpatia com a exótica frutinha romã, além de outras curiosidades que fazem parte dessa bonita festa brasileira!
vale a pena visitar!
sábado, dezembro 26, 2009
a que te entregas. Estranho relojoeiro
cheiras a peça desmontada: as molas unem-se,
o tempo anda. És vidraceiro.
Varres a rua. Não importa
que o desejo de partir te roa; e a esquina
faça de ti outro homem; e a lógica
te afaste de seus frios privilégios.
Há o trabalho em ti, mas caprichoso,
Há o trabalho em ti, mas caprichoso,
mas benigno,
e dele surgem artes não burguesas,
produtos de ar e lágrimas, indumentos
que nos dão asa ou pétalas, e navios sem aço, onde os amigos
fazendo roda viajam pelo tempo,
livros se animam, quadros se conversam,
e tudo libertado se resolve
numa efusão de amor sem paga, e riso, e sol.
O ofício é o ofício
O ofício é o ofício
que assim te põe no meio de nós todos,vagabundo entre dois horários; mão sabida
no bater, no cortar, no fiar, no rebocar,
o pé insiste em levar-te pelo mundo,
a mão pega a ferramenta: é uma navalha,
e ao compasso de Brahms fazes a barba
neste salão desmemoriado no centro do mundo oprimido
onde ao fim de tanto silêncio e oco te recobramos.
Foi bom que te calasses.
Foi bom que te calasses.
Meditavas na sombra das chaves,
das correntes, das roupas riscadas, das cercas de arame,
juntavas palavras duras, pedras, cimento, bombas, invectivas,
anotavas com lápis secreto a morte de mil, a boca sangrenta
de mil, os braços cruzados de mil.
E nada dizias.
E nada dizias.
E um bolo, um engulho
formando-se. E as palavras subindo.
Ó palavras desmoralizadas, entretanto salvas, ditas de novo.
Poder da voz humana inventando novos vocábulos e dando sopros exaustos.
Dignidade da boca, aberta em ira justa e amor profundo,
crispação do ser humano, árvore irritada, contra a miséria e a fúria dos ditadores,
ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode
ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode
caminham numa estrada de pó e de esperança.
Carlos Drummond de Andrade
sábado, novembro 28, 2009
a decomposição das coisas
somos todos responsáveis pelo que produzimos
A lignina, substância que dá rigidez às células vegetais, é um dos componentes mais importantes do papel. Ela não se decompõe facilmente, pois suas moléculas são maiores do que as bactérias que as destroem. Num lugar úmido, o papel leva três meses para sumir e ainda mais do que isso em local seco. Além disso, um papel absorvente dura vários meses. Jornais podem permanecer intactos por décadas.
6 meses
A deterioração de um fósforo de madeira começa com a invasão da lignina — seu principal ingrediente — por hordas de fungos e insetos xilófagos, os que comem madeira. O processo é lento e, em um ambiente úmido, um fósforo não se destrói até que se passe cerca de seis meses.
6 a 12 meses
Os microorganismos, insetos e outros seres invertebrados geralmente transformam a matéria orgânica de forma eficaz. No entanto, o miolo de uma maçã, que se decompõe em uns seis meses em clima quente, pode conservar-se por um ano num lugar mais ameno. Isso porque o orvalho (e a neve nos países frios) dificulta a proliferação dos micróbios e diminui sua capacidade devoradora.
1 a 2 anos
Um cigarro pode demorar de um a dois anos para se decompor, tempo em que as bactérias e fungos digerem o acetato de celulose existente no filtro. Jogar um cigarro sem filtro no campo é menos nocivo, uma vez que o tabaco e a celulose levam quatro meses para sumir. Contudo, se jogado no asfalto, o tempo de vida da bituca é maior.
5 anos
Um chiclete jogado no chão começa a ser destruído pela luz e pelo oxigênio do ar, que o fazem perder a elasticidade e a viscosidade. Como a goma contém resinas naturais e artificiais, além de açúcar e outros ingredientes, o processo pode durar até cinco anos. A pulverização do chiclete é mais rápida se ele grudar no sapato de algum distraído.
10 anos
Os metais, em princípio, não são biodegradáveis. Uma lata de aço se desintegra em uns dez anos, convertendo-se em óxido de ferro. Em dois verões chuvosos, o oxigênio da água começa a oxidar as latas feitas de aço recoberto de estanho e verniz. Já uma lata de alumínio não se corrói nunca. E boa parte dos refrigerantes é vendida em latas de alumínio.
mais de 100 anos
As boas qualidades do plástico — sua durabilidade e resistência à umidade e aos produtos químicos — impedem sua decomposição. Como esse material existe há apenas um século, não é possível determinar seu grau de biodegradação, mas estima-se que uma garrafa de plástico demoraria centenas de anos para desaparecer.
4000 anos
O vidro não se biodegradará jamais. Sua resistência é tamanha, que arqueólogos encontraram utensílios de vidro do ano de 2000 a.C. Por ser composto de areia, sódio, cal e vários aditivos, os microorganismos não conseguem comê-lo. Um recipiente de vidro demoraria 4.000 anos para se desintegrar pela erosão e ação de agentes químicos.
O que há no lixo composição aproximada do lixo recolhido na coleta seletiva da cidade de São Paulo. A coleta seletiva representa 0,8% do total produzido: 12.000 toneladas por dia, o maior volume do País. Desse valor,
87% vai para quatro aterros sanitários da metrópole.
Plástico 7%
Metais 10%
Vidro 13%
Matéria orgânica e resíduos 20%
Papel 50%
Fonte: http://www.ecolegal.com.br/
Fonte: http://www.ecolegal.com.br/
A HISTÓRIA DAS COISAS
clicka AQUI
quinta-feira, novembro 12, 2009
quinta-feira, setembro 10, 2009
velha roupa colorida
"Você não sente nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo,
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem novo
Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer
....e o passado é uma roupa que não nos serve mais
e precisamos todos, todos rejuvenescer."
sexta-feira, agosto 28, 2009
Por quem os sinos dobram
Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida e que vive guardada
O eco de suas palavras não repercutem em nada
É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado, é...
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo
Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais
É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo
Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais.
"para Francisco, Raul e Amigos"
Por Quem Os Sinos Dobram
Composição: Raul Seixas
Por Quem Os Sinos Dobram
Composição: Raul Seixas
broken window
Do fundo do fim do mundo
Vieram me perguntar
Qual era o anseio fundo
Que me fazia chorar.
E eu disse, "É esse que os poetas
Têm tentado dizer
Em obras sempre incompletas
Em que puseram seu ser".
F. Pessoa
http://www.scribd.com/doc/4934981/fernando-pessoainedito
Vieram me perguntar
Qual era o anseio fundo
Que me fazia chorar.
E eu disse, "É esse que os poetas
Têm tentado dizer
Em obras sempre incompletas
Em que puseram seu ser".
F. Pessoa
http://www.scribd.com/doc/4934981/fernando-pessoainedito
do devir
"...Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, ..."
Heráclito de Éfeso (aprox. 540 a. C.)
filósofo pré-socrático, o "obscuro, "pai da dialética"
Heráclito de Éfeso (aprox. 540 a. C.)
filósofo pré-socrático, o "obscuro, "pai da dialética"
“Heráclito afirmava que somente o devir ou a mudança é real. O dia se torna noite, o inverno se torna primavera, esta se torna verão, o úmido seca, o seco umedece, o frio esquenta, o quente esfria, o grande diminui, o pequeno cresce, o doente ganha saúde, a treva se faz luz, esta se transforma naquela, a vida cede lugar à morte, esta dá origem àquela”.
O mundo, dizia Heráclito, é um fluxo perpétuo onde nada permanece idêntico a si mesmo, mas tudo se transforma no seu contrário.
A luta é a harmonia dos contrários, responsável pela ordem racional do universo. Nossa experiência sensorial percebe o mundo como se tudo fosse estável e permanente, mas o pensamento sabe que nada permanece, tudo se torna contrário de si mesmo. O logos é a mudança e a contradição.”
Marilena Chauí
Pausa para a Filosofia
leituras:
Anseio
domingo, agosto 02, 2009
sábado, agosto 01, 2009
um conto fantástico
O Horla - a obra prima de Guy de Maupassant
Margens do Sena,
Paris 1882, óleo sobre tela 96 x 161 cm
Museu do Chiado Lisboa, Portugal
8 de maio.
Que dia lindo! Passei a manhã toda deitado na relva, na frente de casa, sob o enorme plátano que a encobre toda. Gosto desta região, de viver aqui, pois aqui estão velhas recordações, aquelas raízes profundas e delicadas que prendem o homem ao solo onde seus antepassados nasceram e morreram, que o ligam às idéias e costumes do lugar e também, à comida às expressões locais, ao cheiro da terra do próprio ambiente.
Adoro a casa onde cresci. Das janelas, vejo o Sena, correndo ao lado do jardim, no outro lado da estrada, quase atravessando minhas terras, o grandioso e extenso Sena, que vai a Rouen e a Havre, apinhado de barcos que passam para lá e para cá.
Lá embaixo, à esquerda, está a grande cidade de Rouen, com seus telhados azuis e pontiagudas torres góticas. Estas últimas são incontáveis, largas ou estreitas, dominadas pela espiral da catedral e cheias de sinos que tocam no ar azul de belas manhãs, enviando até minha casa seu doce e distante tinido, canção de metal que a brisa impele em minha direção, ora forte, ora débil, conforme a intensidade do vento.
Como a manhã estava agradável!
Lá pelas onze horas, uma longa fila de barcos puxados por um rebocador do tamanho de uma mosca, que mal conseguia resfolegar enquanto soltava espessa fumaça, passou em frente a meu portão.
Depois de duas escunas inglesas com a bandeira vermelha ondulando ao vento, passou um magnífico barco brasileiro de três mastros, todo branco, muito limpo e lustroso.
Saudei-o, sem saber bem por que, a não ser que a visão do navio deu-me grande prazer.
Adoro a casa onde cresci. Das janelas, vejo o Sena, correndo ao lado do jardim, no outro lado da estrada, quase atravessando minhas terras, o grandioso e extenso Sena, que vai a Rouen e a Havre, apinhado de barcos que passam para lá e para cá.
Lá embaixo, à esquerda, está a grande cidade de Rouen, com seus telhados azuis e pontiagudas torres góticas. Estas últimas são incontáveis, largas ou estreitas, dominadas pela espiral da catedral e cheias de sinos que tocam no ar azul de belas manhãs, enviando até minha casa seu doce e distante tinido, canção de metal que a brisa impele em minha direção, ora forte, ora débil, conforme a intensidade do vento.
Como a manhã estava agradável!
Lá pelas onze horas, uma longa fila de barcos puxados por um rebocador do tamanho de uma mosca, que mal conseguia resfolegar enquanto soltava espessa fumaça, passou em frente a meu portão.
Depois de duas escunas inglesas com a bandeira vermelha ondulando ao vento, passou um magnífico barco brasileiro de três mastros, todo branco, muito limpo e lustroso.
Saudei-o, sem saber bem por que, a não ser que a visão do navio deu-me grande prazer.
12 de maio.
Tenho estado um pouco febril nos últimos dias e sinto-me doente, ou antes, desalentado. De onde vêm essas misteriosas influências que transformam a alegria em desânimo e a autoconfiança em acanhamento? Poder-se-ia quase dizer que o ar, o ar invisível, está cheio de forças incompreensíveis, cuja presença misteriosa tem de suportar.
Acordo com a melhor disposição, sentindo vontade de cantar. Por quê?
Desço até a beira da água e, de repente, depois de andar um pouco, volto para casa infeliz, como se uma desgraça estivesse esperando por mim. Por quê?
Seria um calafrio que me passou pela pele e abalou meus nervos, deixando-me desanimado? Seria a forma das nuvens, a cor do céu ou dos objetos ao redor de mim tão inconstante, que perturbou meus pensamentos, quando passaram diante de meus olhos?
Quem sabe? Tudo o que nos cerca, tudo o que vemos sem olhar, tudo o que tocamos sem querer, tudo o que manejamos sem sentir, tudo o que encontramos sem ver claramente, tem rápida, surpreendente e inexplicável influência sobre nós e nossos sentidos e, através destes, em nossas idéias e até em nosso coração.
Desço até a beira da água e, de repente, depois de andar um pouco, volto para casa infeliz, como se uma desgraça estivesse esperando por mim. Por quê?
Seria um calafrio que me passou pela pele e abalou meus nervos, deixando-me desanimado? Seria a forma das nuvens, a cor do céu ou dos objetos ao redor de mim tão inconstante, que perturbou meus pensamentos, quando passaram diante de meus olhos?
Quem sabe? Tudo o que nos cerca, tudo o que vemos sem olhar, tudo o que tocamos sem querer, tudo o que manejamos sem sentir, tudo o que encontramos sem ver claramente, tem rápida, surpreendente e inexplicável influência sobre nós e nossos sentidos e, através destes, em nossas idéias e até em nosso coração.
Como esse mistério do Invisível é profundo! Não podemos compreendê-lo com nossos sentidos miseráveis, olhos incapazes de perceber o que for muito grande ou muito pequeno, esteja muito perto ou muito longe: nem os habitantes de uma estrela, nem os de uma gota de água. Nem com ouvidos que nos enganam, pois os transmitem as vibrações do ar em notas sonoras. São fadas que realizam o milagre de mudar essas vibrações em sons e, por meio dessa metamorfose, fazem surgir à música que transforma o silencioso movimento da natureza... Nem com o sentido do olfato, menos aguçado que o de um cão... Nem com o sentido do paladar, que mal percebe a idade do vinho
Como seria bom se tivéssemos outros órgãos que realizassem outros milagres ao nosso favor! Quantas coisas novas poderíamos descobrir a nossa volta!
16 de maio.
Positivamente, estou doente! E estava tão bem no mês passado! Estou com febre, horrivelmente febril, ou melhor, em um estado de debilitação febril, que faz a alma sofrer tanto quanto o corpo. Tenho, continuamente, a horrível sensação de perigo iminente, o receio de alguma futura desgraça ou da morte próxima. Pressentimento que é, sem dúvida, o acesso de uma doença ainda desconhecida, que germina na carne e no sangue.
17 de maio.
Acabo de consultar o médico, pois não conseguia mais dormir. Ele disse que o pulso estava rápido, os olhos, dilatados, os nervos, à flor da pele, mas que não encontrou sintomas alarmantes.
Devo tomar algumas duchas e brometo de de potássio.
Devo tomar algumas duchas e brometo de de potássio.
25 de maio.
Nenhuma mudança! Meu estado é realmente estranho. Quando a noite se aproxima, sou invadido por uma incompreensível sensação de intranqüilidade, como se a noite escondesse alguma catástrofe ameaçadora. Janto às pressas e então procuro ler, mas não compreendo as palavras e mal distingo as letras. Caminho de um lado para outro da sala, acabrunhado por uma sensação confusa de medo irresistível, medo do sono e medo da cama.
Lá pelas dez horas subo ao quarto.
Assim que entro dou duas voltas à chave e ponho a tranca na porta. Tenho medo... De quê? Até a pouco, não tinha medo de nada... Abro os armários e olho embaixo da cama.
Escuto... O quê? Não é estranho que uma simples sensação de mal-estar, a má circulação, talvez a irritação de um filamento nervoso, uma ligeira congestão, um pequeno distúrbio no imperfeito e delicado funcionamento de nosso mecanismo vivo, possa transformar o mais despreocupado dos homens em melancólico e em covarde o mais valente?
Vou para a cama e espero o sono como um homem que espera o carrasco. Com medo, espero sua chegada, o coração bate e as pernas tremem e todo o corpo tem calafrios debaixo do calor das cobertas, até que adormeço de repente, como alguém que mergulhasse em uma poça de água estagnada a fim de afogar-se.
Vou para a cama e espero o sono como um homem que espera o carrasco. Com medo, espero sua chegada, o coração bate e as pernas tremem e todo o corpo tem calafrios debaixo do calor das cobertas, até que adormeço de repente, como alguém que mergulhasse em uma poça de água estagnada a fim de afogar-se.
Não o sinto vir como antigamente, este traiçoeiro sono que está perto de mim, vigiando-me e que vai agarrar-me pela cabeça, fechar meus olhos e aniquilar-me. Durmo... Bastante tempo... Talvez duas ou três horas... Então um sonho... Não... Um pesadelo apossa-se de mim. Sinto que estou na cama, dormindo... Sinto e sei disso... E sinto também que alguém se aproxima, olha-me, toca-me, sobe em minha cama, ajoelha-se sobre meu peito, toma meu pescoço entre as mãos e o aperta... Aperta com toda a força a fim de estrangular-me.
Luto, dominado por aquela terrível sensação de impotência que nos paralisa durante os sonhos. Tento gritar... Mas não consigo. Quero mover-me... Não consigo. Faço os mais violentos esforços, respiro fundo, para tentar virar-me e derrubar essa criatura que está me esmagando, me sufocando... Não consigo!
E, então, acordo de repente, tremendo e banhado em suor.
Acendo uma vela e descubro que estou sozinho. Depois dessa crise, que acontece todas as noites, finalmente caio no sono e durmo em paz até de manhã.
Acendo uma vela e descubro que estou sozinho. Depois dessa crise, que acontece todas as noites, finalmente caio no sono e durmo em paz até de manhã.
2 de junho.
Meu estado de saúde piorou. O que está acontecendo comigo?
O brometo não está adiantando de nada e as duchas não produzem resultado.
Às vezes, a fim de ficar bem cansado, embora já esteja bastante fatigado, vou dar um passeio na floresta de Roumare. Costumava pensar que o ar fresco, leve e suave, impregnado do cheiro de ervas e folhas, instilaria sangue novo em minhas veias e daria nova energia a meu coração. Enveredava por uma larga estrada de caça e então seguia na direção de La Bouille, por uma estreita trilha entre duas fileiras de árvores de uma altura descomunal, que formavam um espesso teto de um verde quase negro entre o céu e eu.
O brometo não está adiantando de nada e as duchas não produzem resultado.
Às vezes, a fim de ficar bem cansado, embora já esteja bastante fatigado, vou dar um passeio na floresta de Roumare. Costumava pensar que o ar fresco, leve e suave, impregnado do cheiro de ervas e folhas, instilaria sangue novo em minhas veias e daria nova energia a meu coração. Enveredava por uma larga estrada de caça e então seguia na direção de La Bouille, por uma estreita trilha entre duas fileiras de árvores de uma altura descomunal, que formavam um espesso teto de um verde quase negro entre o céu e eu.
Um repentino arrepio percorreu-me a espinha, não de frio, mas um estranho arrepio de agonia.
Apressei o passo, apreensivo por estar sozinho na floresta, estupidamente amedrontado sem razão, por causa da completa solidão. De repente pareceu-me estar sendo seguido, que havia alguém nos meus calcanhares, perto, bem perto de mim, próximo o bastante para tocar-me.
Voltei-me precipitadamente, mas estava só. Nada vi atrás de mim, exceto a larga trilha reta, vazia, cercada de altas árvores, horrivelmente vazia; à minha frente também se estendia a perder de vista, parecendo sempre à mesma, terrível. Fechei os olhos. Por quê? Comecei a rodar como pião, bem depressa. Quase caí e abri os olhos: as árvores dançavam ao meu redor e a terra girava.
Fui obrigado a sentar-me. E, então, que idéia estranha! Não sabia de mais nada. Saí para a direita e voltei à avenida que me conduzira ao centro da floresta.
Apressei o passo, apreensivo por estar sozinho na floresta, estupidamente amedrontado sem razão, por causa da completa solidão. De repente pareceu-me estar sendo seguido, que havia alguém nos meus calcanhares, perto, bem perto de mim, próximo o bastante para tocar-me.
Voltei-me precipitadamente, mas estava só. Nada vi atrás de mim, exceto a larga trilha reta, vazia, cercada de altas árvores, horrivelmente vazia; à minha frente também se estendia a perder de vista, parecendo sempre à mesma, terrível. Fechei os olhos. Por quê? Comecei a rodar como pião, bem depressa. Quase caí e abri os olhos: as árvores dançavam ao meu redor e a terra girava.
Fui obrigado a sentar-me. E, então, que idéia estranha! Não sabia de mais nada. Saí para a direita e voltei à avenida que me conduzira ao centro da floresta.
2 de junho.
Passei uma noite horrível. Vou partir por algumas semanas, pois sem dúvida uma viagem me fará bem.
2 de julho. Voltei completamente curado e ainda fiz ótima viagem. Fui ao Mont-Saint-Michel, que ainda não conhecia.
Que vista, quando se chega a Avranches como eu, quase no fim do dia! A cidade está sobre uma colina e fui conduzido ao jardim público, nos limites da cidade. Dei um grito de assombro! Uma enorme baía estendia-se diante de mim, até onde os olhos alcançavam, entre duas colinas que a neblina impedia de serem vistas. No meio dessa imensa baía, sob um claro céu dourado, erguia-se uma estranha colina, sombria e pontiaguda, no meio da areia. O sol acabara de se pôr e, no horizonte ainda flamejante, aparecia o contorno do fantástico rochedo com um fantástico monumento em seu cume.
Quando raiou o dia, fui para lá. Como na noite anterior, a maré estava baixa e vi diante de mim a admirável abadia, cada vez mais próxima. Depois de andar algumas horas, alcancei a enorme massa de rochas sobre a qual se localiza a cidadezinha, dominada pela grande igreja. Depois de subir a rua íngreme e estreita, entrei no mais admirável edifício gótico já construído para Deus na terra, grande como uma cidade, cheio de salas de teto baixo que parecem enterradas sob abóbadas e de grandiosas galerias sustidas por delicadas colunas. Entrei nessa gigantesca jóia de granito, leve como renda, coberta de torres, com esguios campanários de escadas em caracol, que erguem as estranhas cabeças eriçadas de quimeras, de demônios, de animais fantásticos, com flores monstruosas, para o céu azul durante o dia e negro à noite, e são ligados por arcos finamente entalhados. Quando cheguei ao ponto mais alto da abadia, disse ao monge que me acompanhava:
- Padre, como devem ser felizes aqui!
Ao que responde:
- Venta muito, monsieur!
Começamos a conversar, enquanto assistíamos à subida da maré, que corria pela areia, e parecia cobri-la com uma couraça de aço.
- Padre, como devem ser felizes aqui!
Ao que responde:
- Venta muito, monsieur!
Começamos a conversar, enquanto assistíamos à subida da maré, que corria pela areia, e parecia cobri-la com uma couraça de aço.
O monge contou-me histórias, todas as velhas histórias do lugar, lendas, nada mais que lendas.
Uma delas impressionou-me bastante. Os camponeses, aqueles que fazem parte do lugar, dizem que à noite podem-se ouvir vozes nas areias e depois duas cabras balindo, uma com voz forte, a outra com voz fraca.
As pessoas incrédulas afirmam que é apenas o grito das aves do mar, que às vezes parecem balidos e, outras, lamentos humanos.
Todavia, pescadores que se atrasaram para voltar juram ter encontrado um velho pastor vagando, entre uma maré e outra, pelas areias ao redor da cidadezinha. Traz a cabeça totalmente coberta por um manto e é seguido por um bode com cara de homem e uma cabra com cara de mulher, ambos com longos cabelos brancos, falando sem parar e discutindo em uma língua desconhecida. Calam-se de repente e começam a balir a plenos pulmões.
Uma delas impressionou-me bastante. Os camponeses, aqueles que fazem parte do lugar, dizem que à noite podem-se ouvir vozes nas areias e depois duas cabras balindo, uma com voz forte, a outra com voz fraca.
As pessoas incrédulas afirmam que é apenas o grito das aves do mar, que às vezes parecem balidos e, outras, lamentos humanos.
Todavia, pescadores que se atrasaram para voltar juram ter encontrado um velho pastor vagando, entre uma maré e outra, pelas areias ao redor da cidadezinha. Traz a cabeça totalmente coberta por um manto e é seguido por um bode com cara de homem e uma cabra com cara de mulher, ambos com longos cabelos brancos, falando sem parar e discutindo em uma língua desconhecida. Calam-se de repente e começam a balir a plenos pulmões.
- Acredita nisso? – perguntei ao monge.
- Não sei ao certo – retrucou.
Continuei:
- Se existem outras criaturas na terra além de nós, como ainda não as conhecemos e por que vocês ainda não as viram?
Como é que eu ainda não as vi?
Respondeu:
- Não sei ao certo – retrucou.
Continuei:
- Se existem outras criaturas na terra além de nós, como ainda não as conhecemos e por que vocês ainda não as viram?
Como é que eu ainda não as vi?
Respondeu:
- Será que vemos a centésima milésima parte do que existe?
Olhe aqui, aí está o vento, a maior força que existe na natureza, que derruba homens e edifícios, destrói penhascos e joga grandes navios contra os rochedos, o vento que mata, que assobia, que suspira, que....... Já o viu?
Pode vê-lo? Apesar disso, no entanto, ele existe!Calei-me diante desse raciocínio tão simples.
Aquele homem era um filósofo ou, talvez, um tolo.
Não saberia dizer qual, exatamente, por isso fiquei quieto. O que dissera, eu já havia pensado muitas vezes.
Olhe aqui, aí está o vento, a maior força que existe na natureza, que derruba homens e edifícios, destrói penhascos e joga grandes navios contra os rochedos, o vento que mata, que assobia, que suspira, que....... Já o viu?
Pode vê-lo? Apesar disso, no entanto, ele existe!Calei-me diante desse raciocínio tão simples.
Aquele homem era um filósofo ou, talvez, um tolo.
Não saberia dizer qual, exatamente, por isso fiquei quieto. O que dissera, eu já havia pensado muitas vezes.
3 de julho.
Dormi mal. Certamente há alguma influência febril aqui, pois meu cocheiro está sofrendo exatamente como eu. Ontem, quando voltei para casa, notei que estava muito pálido e lhe perguntei:
- O que tem Jean?
- Não consigo repousar, e as noites devoram meus dias. Desde que partiu monsieur, parece que estou enfeitiçado.
Entretanto, os outros criados estão todos bem. Estou com muito medo de ter outro ataque.
Entretanto, os outros criados estão todos bem. Estou com muito medo de ter outro ataque.
4 de julho.
Estou de novo doente, pois meu antigo pesadelo voltou. A noite passada, senti alguém se inclinando sobre mim e sugando minha vida por entre meus lábios.
Sim, estava sugando-a de minha garganta, como uma sanguessuga. Depois, levantou-se, saciado, e acordei tão cansado, esmagado e fraco que não conseguia mover-me. Se isso continuar por mais alguns dias, viajarei novamente.
Sim, estava sugando-a de minha garganta, como uma sanguessuga. Depois, levantou-se, saciado, e acordei tão cansado, esmagado e fraco que não conseguia mover-me. Se isso continuar por mais alguns dias, viajarei novamente.
5 de julho.
Será que estou louco? O que aconteceu a noite passada é tão estranho que perco a cabeça só de pensar!Trancara a porta, como faço todas as noites, e, tendo sede, bebi meio copo de água, notando, por acaso, que a garrafa de água estava cheia até o gargalo.
Fui para a cama e passei por um de meus sonhos terríveis, do qual acordei cerca de duas horas depois, com um choque ainda maior. Imagine um homem adormecido sendo assassinado e que acorda com uma faca no pulmão e cuja respiração está arquejante coberto de sangue, que não consegue mais respirar, está quase morrendo e não compreende... Aí está.
Tendo recuperado os sentidos, senti sede novamente, por isso acendi uma vela e fui até a mesa onde estava a garrafa de água.
Ergui-a e avirei sobre o copo, mas nada saiu.
Estava vazia! Completamente vazia!
A princípio não consegui entender absolutamente nada.
Mas, de repente, tive uma sensação tão horrível que precisei sentar-me, ou melhor, caí numa cadeira! Saltei da cadeira e olhei à volta, sentei-me de novo, tomado de espanto e medo, em frente à garrafa de cristal.
Encarava-a, tentando adivinhar, e minhas mãos tremiam.
Ergui-a e avirei sobre o copo, mas nada saiu.
Estava vazia! Completamente vazia!
A princípio não consegui entender absolutamente nada.
Mas, de repente, tive uma sensação tão horrível que precisei sentar-me, ou melhor, caí numa cadeira! Saltei da cadeira e olhei à volta, sentei-me de novo, tomado de espanto e medo, em frente à garrafa de cristal.
Encarava-a, tentando adivinhar, e minhas mãos tremiam.
Alguém bebera a água, mas quem? Eu? Eu, sem dúvida.
Só poderia ter sido eu. Nesse caso era sonâmbulo. Vivia, sem saber, a misteriosa vida dupla que nos faz pensar que talvez existam duas criaturas dentro de nós ou que um ser estranho, incompreensível e invisível, anima nosso corpo cativo que o obedece como a nós e mais do que a nós, quando nossa alma está entorpecida.
Só poderia ter sido eu. Nesse caso era sonâmbulo. Vivia, sem saber, a misteriosa vida dupla que nos faz pensar que talvez existam duas criaturas dentro de nós ou que um ser estranho, incompreensível e invisível, anima nosso corpo cativo que o obedece como a nós e mais do que a nós, quando nossa alma está entorpecida.
Quem entenderá minha terrível agonia? Quem entenderá a emoção de um homem, são de espírito, completamente acordado, cheio de bom senso, que procura através do cristal de uma jarra um pouco de água que desapareceu enquanto dormia?
Fiquei nessa posição, até o dia surgir, sem me arriscar a voltar para a cama.
6 de julho.
Estou ficando louco.
Mais uma vez todo o conteúdo da jarra de água foi tomado durante a noite... Ou melhor, eu o bebi!
Mas será que sou eu? Sou eu? Quem poderia ser? Quem? Oh, meu Deus!
Estou ficando louco? Quem me salvará?
Mais uma vez todo o conteúdo da jarra de água foi tomado durante a noite... Ou melhor, eu o bebi!
Mas será que sou eu? Sou eu? Quem poderia ser? Quem? Oh, meu Deus!
Estou ficando louco? Quem me salvará?
10 de julho.
Acabo de passar por surpreendentes experiências.
Decididamente, estou louco! Todavia...A 6 de julho, antes de ir para a cama, coloquei vinho, leite, água, pão e morangos sobre a mesa. Alguém bebeu, eu bebi toda a água e um pouquinho do leite, mas o vinho, o pão e os morangos não foram tocados.
Decididamente, estou louco! Todavia...A 6 de julho, antes de ir para a cama, coloquei vinho, leite, água, pão e morangos sobre a mesa. Alguém bebeu, eu bebi toda a água e um pouquinho do leite, mas o vinho, o pão e os morangos não foram tocados.
Em 7 de julho, repeti a mesma experiência, com os mesmos resultados, e em 8 de julho não deixei água nem leite, e nada foi tocado.
Por fim, 9 de julho, deixei sobre a mesa apenas água e leite, tomando o cuidado de envolver os frascos em musselina branca e de amarrar as tampas. Esfreguei os lábios, a barba e as mãos com grafita e me deitei. Um sono irresistível se apossou de mim, seguido de um terrível despertar. Não me movera, não havia marcas de grafita nos lençóis.
Corri até a mesa. A musselina ao redor dos frascos estava intacta. Desamarrei as tampas, tremendo de medo. Toda a água fora bebida, assim como o leite! Meu Deus! Preciso partir imediatamente para Paris.
Corri até a mesa. A musselina ao redor dos frascos estava intacta. Desamarrei as tampas, tremendo de medo. Toda a água fora bebida, assim como o leite! Meu Deus! Preciso partir imediatamente para Paris.
Paris, 12 de julho.
Devo ter perdido a cabeça nos últimos dias.
Devo ser joguete de minha imaginação exacerbada, a menos que seja realmente sonâmbulo ou que tenha estado sob o poder daquelas influências até agora sem explicação, chamadas sugestões. Em todo caso, meu estado mental chegava às raias da loucura, e vinte e quatro horas em Paris bastaram para restaurar meu equilíbrio.
Devo ser joguete de minha imaginação exacerbada, a menos que seja realmente sonâmbulo ou que tenha estado sob o poder daquelas influências até agora sem explicação, chamadas sugestões. Em todo caso, meu estado mental chegava às raias da loucura, e vinte e quatro horas em Paris bastaram para restaurar meu equilíbrio.
Ontem, depois de resolver alguns negócios e fazer algumas visitas que instilaram em minha alma ar novo e revigorante, terminei a noite no Théâtre-Français.
Estava sendo apresentada uma peça de Alexandre Dumas, filho, e sua imaginação ativa e poderosa completou minha cura. É certo que a solidão é perigosa para as mentes ativas. Precisamos de homens que saibam pensar e conversar. Quando ficamos sozinhos por muito tempo, povoamos o espaço com fantasmas.
Estava sendo apresentada uma peça de Alexandre Dumas, filho, e sua imaginação ativa e poderosa completou minha cura. É certo que a solidão é perigosa para as mentes ativas. Precisamos de homens que saibam pensar e conversar. Quando ficamos sozinhos por muito tempo, povoamos o espaço com fantasmas.
Pelos bulevares, voltei ao hotel muito bem-humorado. No meio dos empurrões da multidão, pensava, não sem uma ponta de ironia, em meus terrores e conjeturas da semana anterior, porque acreditara (sim, acreditara) que uma criatura invisível vivia debaixo de meu teto. Como nosso cérebro é fraco, como se assusta à toa e é induzido a erro por um pequeno fato incompreensível!Em vez de dizer apenas: "Não entendo porque não conheço a causa", imaginamos imediatamente mistérios terríveis e forças sobrenaturais.
14 de julho.
Festa da República. Passeei pelas ruas, entusiasmado com os fogos e as bandeiras, como uma criança. Ainda assim, é tolice ficar alegre em data marcada, obedecendo a um decreto do governo. O populacho é um imbecil rebanho de carneiros, de uma paciência estúpida ou com uma revolta feroz.Digam-lhe: "Divirtam-se", e o povo se diverte.
Digam-lhe: "Vão lutar com o vizinho", e o povo vai e luta.
Digam-lhe: "Votem pelo imperador", e o povo vota pelo imperador.
Então lhe digam: "Votem pela República", e o povo vota pela República. Os que dirigem o povo também são estúpidos, só que, ao invés de obedecer aos homens, obedecem aos princípios que só podem ser estúpidos, estéreis e falsos, pela simples razão de serem princípios, isto é, idéias consideradas como certas e imutáveis, neste mundo, onde não se tem certeza de nada, já que a luz é uma ilusão, já que o barulho é uma ilusão.
Digam-lhe: "Vão lutar com o vizinho", e o povo vai e luta.
Digam-lhe: "Votem pelo imperador", e o povo vota pelo imperador.
Então lhe digam: "Votem pela República", e o povo vota pela República. Os que dirigem o povo também são estúpidos, só que, ao invés de obedecer aos homens, obedecem aos princípios que só podem ser estúpidos, estéreis e falsos, pela simples razão de serem princípios, isto é, idéias consideradas como certas e imutáveis, neste mundo, onde não se tem certeza de nada, já que a luz é uma ilusão, já que o barulho é uma ilusão.
16 de julho.
Ontem vi uma coisa que me deixou muito preocupado.Jantava em casa de minha prima, Mme. Sable, cujo marido é coronel no 76° Batalhão de Caçadores, em Limoges.
Estavam lá duas jovens, uma delas casada com um médico, Dr. Parent, especialista em doenças nervosas e que dá muita atenção às notáveis manifestações causadas pela influência do hipnotismo e da sugestão.
Estavam lá duas jovens, uma delas casada com um médico, Dr. Parent, especialista em doenças nervosas e que dá muita atenção às notáveis manifestações causadas pela influência do hipnotismo e da sugestão.
Contou-nos com alguns detalhes os maravilhosos resultados obtidos por cientistas ingleses e médicos da escola de Nancy, e os fatos que expôs pareceram-me tão estranhos que me declarei completamente incrédulo.
- Estamos prestes a descobrir um dos mais importantes segredos da natureza, isto é, um dos mais importantes segredos nesta terra, pois certamente existem outros, de outra espécie de importância, lá em cima, nas estrelas
- disse ele.
- Desde que o homem começou a pensar desde que conseguiu expressar e anotar os pensamentos, tem-se sentido próximo a um mistério inacessível os seus sentidos incompletos e imperfeitos.
- Procura, então, suprir a ineficiência dos sentidos por meio do intelecto. Enquanto o intelecto manteve-se em um estágio rudimentar, as aparições dos espíritos invisíveis assumiam formas comuns, embora assustadoras.
Daí surgiu a crença popular no sobrenatural, as lendas das almas penadas, fadas, gnomos, fantasmas, posso mesmo dizer, a lenda de Deus, pois nossa concepção do artífice-criador, seja qual for a religião que no-la transmitiu, é certamente a mais vulgar, estúpida e inacreditável invenção que já saiu do cérebro amedrontado dos seres humanos.
- Procura, então, suprir a ineficiência dos sentidos por meio do intelecto. Enquanto o intelecto manteve-se em um estágio rudimentar, as aparições dos espíritos invisíveis assumiam formas comuns, embora assustadoras.
Daí surgiu a crença popular no sobrenatural, as lendas das almas penadas, fadas, gnomos, fantasmas, posso mesmo dizer, a lenda de Deus, pois nossa concepção do artífice-criador, seja qual for a religião que no-la transmitiu, é certamente a mais vulgar, estúpida e inacreditável invenção que já saiu do cérebro amedrontado dos seres humanos.
Nada é mais verdadeiro do que o dito de Voltaire: "Deus criou o homem à Sua imagem, mas o homem pagou-lhe na mesma moeda".
Entretanto
- continuou o Dr. Parent -, há cerca de um século, os homens parecem pressentir algo novo. Mesmer e outros os conduziram a uma trilha inesperada e, principalmente nos últimos dois ou três anos, conseguimos resultados realmente surpreendentes.
Minha prima, também muito incrédula, sorriu, e o Dr. Parent disse-lhe:
- Gostaria que eu tentasse fazê-la dormir, madame?
- Sim, certamente.
Ela sentou-se em uma poltrona, e ele começou a olhá-la fixamente, como se quisesse encantá-la. Comecei a sentir-me pouco à vontade, com o coração batendo e uma sensação sufocante na garganta. Vi os olhos de Mme. Sable tornarem-se pesados, a boca crispar-se e o peito arfar. Em dez minutos estava dormindo.
- Fique atrás dela - disse-me o médico.
Sentei-me atrás dela. Pôs um cartão de visitas entre as mãos dela e lhe disse:
- Isto é um espelho. O que vê nele?
Ela respondeu:
- Vejo meu primo.
- O que ele está fazendo?
- Torcendo o bigode.
- E agora?- Está tirando uma fotografia do bolso.
- Fotografia de quem?
- Dele mesmo.
Era verdade. A fotografia fora-me entregue no hotel aquela noite.
- Como é a foto?
- Ele está em pé, com o chapéu na mão. Enxergava, pois, naquele cartão, naquele pedaço de papelão branco, como se olhasse através de um espelho. As jovens ficaram assustadas e exclamaram:
- Chega! Já chega!
-Mas o médico ordenou a Mme. Sable:
- Levante-se amanhã às oito horas, vá visitar seu primo no hotel e peça-lhe cinco mil francos emprestados que seu marido está precisando e que exigirá da senhora quando partir para a próxima viagem.
Depois disso, o médico acordou-a. Na volta ao hotel, fui meditando sobre essa curiosa sessão. Enchia-me de dúvidas, não quanto à absoluta e sincera boa-fé de minha prima, pois a conhecia como a uma irmã desde criança, mas quanto a um possível truque da parte do médico. Não teria, talvez, um espelho escondido na mão, mostrando à jovem adormecida, ao mesmo tempo em que mostrou o cartão?
Os mágicos fazem coisas desse tipo.
Cheguei ao hotel e fui para a cama. Esta manhã, mais ou menos às oito e meia, o criado de quarto acordou-me e disse-me:
- Mme. Sable pede para vê-lo imediatamente, monsieur.
Vesti-me às pressas e fui recebê-la.
Sentou-se um tanto preocupada, de olhos baixos e, sem erguer o véu do chapéu, disse-me:
- Caro primo, vim pedir-lhe um grande favor.
- Que favor, minha prima?
- Não quero pedir-lhe, mas tenho de fazê-lo. Preciso urgentemente de cinco mil francos.
- O quê? Você?
- Sim, eu, ou melhor, meu marido pediu-me para consegui-los.
- Fiquei tão atônito que gaguejava as respostas. Perguntava-me se ela não estaria zombando de mim, juntamente com o Dr. Parent, se tudo não seria apenas uma bem ensaiada farsa. Olhando-a atentamente, entretanto, todas as minhas dúvidas desapareceram. Estava trêmula de desgosto, pois essa atitude lhe era penosa, e percebi que a garganta lhe travava os soluços. Sabia que era muito rica, por isso continuei:
- Como? Seu marido não tem cinco mil francos à disposição? Vamos, pense. Tem certeza de que ele a encarregou de consegui-los? Hesitou alguns segundos, como se fizesse grande esforço de memória e respondeu:
- Sim... Sim, tenho certeza.
- Ele lhe escreveu?
Hesitou novamente e refletiu.
Percebi a tortura de seus pensamentos. Não sabia.
Sabia apenas que tinha de conseguir comigo cinco mil francos emprestados para seu marido. Assim, mentiu:
Hesitou novamente e refletiu.
Percebi a tortura de seus pensamentos. Não sabia.
Sabia apenas que tinha de conseguir comigo cinco mil francos emprestados para seu marido. Assim, mentiu:
- Sim, escreveu-me.
- Rogo-lhe que me diga quando ele o fez. Não falou sobre isso ontem.
- Recebi a carta hoje pela manhã.
- Pode mostrá-la para mim?
- Não... Não... Continha assuntos íntimos... Coisas muito pessoais... Queimei-a.
- Então seu marido está endividado?
Hesitou mais uma vez e murmurou:
- Não sei.Disse-lhe sem cerimônia:
- No momento não posso dispor de cinco mil francos, cara prima.
Deu um grito, como se estivesse sentindo alguma dor e disse:
- Oh, suplico-lhe, rogo-lhe que os consiga para mim...Parecia perturbada e juntava as mãos como a implorar-me! Sua voz mudou de tom. Chorava e gaguejava inquieta e dominada pela ordem irresistível que recebera.
- Oh, suplico-lhe, rogo-lhe que os consiga para mim...Parecia perturbada e juntava as mãos como a implorar-me! Sua voz mudou de tom. Chorava e gaguejava inquieta e dominada pela ordem irresistível que recebera.
- Por favor, imploro-lhe... Se soubesse o que estou sofrendo... Preciso do dinheiro hoje.
Fiquei com pena:
- Você terá daqui a pouco, juro.
- Obrigada, obrigada. Agradeço-lhe muito.
- Lembra-se do que aconteceu em sua casa ontem à noite?
- continuei.
- Sim.
- Lembra-se de que o Dr. Parent fez você dormir?
- Sim.
- Muito bem então. Mandou que viesse procurar-me esta manhã e pedisse cinco mil francos emprestados. Neste momento, você está obedecendo a essa sugestão. Refletiu por alguns momentos e respondeu:
- Mas é como Se meu marido precisasse deles...
Durante uma hora tentei convencê-la, sem conseguir. Quando se foi, procurei o médico. Estava de saída, ouviu-me com um sorriso e disse:
- Acredita, agora?
- Sim, não tenho outra saída.
- Vamos à casa de sua prima. Ela já estava meio adormecida em uma espreguiçadeira, vencida pelo cansaço. O médico tomou-lhe o pulso, observou-a por algum tempo, com a mão erguida em frente aos olhos dela. Sob a irresistível influência de sua força magnética, fechou os olhos. Quando adormeceu, o médico disse:
- Seu marido não precisa mais dos cinco mil francos. Deve, portanto, esquecer que os pediu emprestado a seu primo e, se ele tocar no assunto, não entenderá de que se trata.
Acordou-a. Peguei a carteira e disse:
- Aqui está o que me pediu esta manhã, cara prima.
Ficou tão surpresa, que não me atrevi a insistir. Contudo, tentei fazê-la lembrar-se do que acontecera. Negou energicamente, achando que me divertia às suas custas e, no fim, quase perdeu a paciência.Pronto! Acabo de chegar e não consegui almoçar, pois essa experiência deixou-me completamente abalado.
19 de julho.
As pessoas a quem contei essa aventura riram-se de mim. Não sei mais o que pensar. Diz o sábio: "Pode ser!”
21 de julho.
Jantei em Bougival e passei a noite em um baile de barqueiros. Decididamente, tudo depende do local e do ambiente. Seria muita tolice acreditar no sobrenatural quando se está na Île de la Grenouilliére... Mas, e no Mont-Saint-Michel?... E na Índia? Somos terrivelmente influenciados pelo que nos rodeia. Na semana que vem, voltarei para casa.
30 de julho.
Voltei ontem para casa. Tudo vai bem.
2 de agosto.
Nada de novo. O tempo está esplêndido e passo os dias a olhar o Sena.
4 de agosto.
Desavenças entre os criados. Alegam que à noite os copos são quebrados nos armários. O criado acusa o cozinheiro, que acusa a costureira, que acusa os outros dois. Quem é o culpado? Só alguém muito esperto poderia dizer.
6 de agosto.
Desta vez não estou louco.
Eu vi... Eu vi... Não posso mais duvidar... eu o vi!
As duas horas, em pleno sol, passeava entre as roseiras... entre as rosas de outono que começam a cair. Quando parei para olhar um géant de bataille, com três rosas esplêndidas, vi perfeitamente a haste de uma das rosas perto de mim inclinar-se, como se uma mão invisível a forçasse a quebrar-se, como se estivesse sendo colhida! Então, a flor ergueu-se, seguindo a curva que a mão teria feito ao levá-la até a boca e permaneceu suspensa no ar, sozinha e imóvel, terrível mancha vermelha, quase diante de meus olhos. Em desespero, corri para agarrá-la. Nada achei, ela desaparecera! Fiquei com muita raiva de mim mesmo, pois um homem sério e razoável não deveria ter tais alucinações.
As duas horas, em pleno sol, passeava entre as roseiras... entre as rosas de outono que começam a cair. Quando parei para olhar um géant de bataille, com três rosas esplêndidas, vi perfeitamente a haste de uma das rosas perto de mim inclinar-se, como se uma mão invisível a forçasse a quebrar-se, como se estivesse sendo colhida! Então, a flor ergueu-se, seguindo a curva que a mão teria feito ao levá-la até a boca e permaneceu suspensa no ar, sozinha e imóvel, terrível mancha vermelha, quase diante de meus olhos. Em desespero, corri para agarrá-la. Nada achei, ela desaparecera! Fiquei com muita raiva de mim mesmo, pois um homem sério e razoável não deveria ter tais alucinações.
Mas seria uma alucinação? Voltei-me para olhar a haste e encontrei-a imediatamente, na roseira, quebrada de pouco, entre duas rosas que continuavam no galho. Voltei para casa, bastante perturbado, pois estou certo agora, como certo estou da alternância entre o dia e a noite, de que existe perto de mim uma criatura invisível, que vive a leite e água, pode tocar objetos, pegá-los e mudá-los de lugar, sendo, portanto, dotado de natureza material, embora seja imperceptível a nossos sentidos. Vive como eu, debaixo de meu teto...
7 de agosto.
Dormi tranqüilamente. Ele bebeu a água da garrafa, mas não perturbou meu sono.
Pergunto a mim mesmo se não estarei louco.
Agora mesmo, passeando ao sol à beira do rio, tive dúvidas quanto a minha sanidade. Não dúvidas vagas como as que tive ultimamente, mas dúvidas absolutas e precisas.
Já vi gente louca e conheci alguns loucos que são inteligentes, lúcidos, até mesmo perspicazes em tudo, exceto em um ponto. Falavam prontas, clara e profundamente sobre todos os assuntos, até que, de repente, a mente ia de encontro aos escolhos de sua loucura, partia-se ali e se dispersava e debatia naquele mar furioso e terrível, cheio de ondas agitadas, de neblina e pés-de-vento, que se chama Loucura.
Com certeza eu deveria pensar que estava louco, completamente louco, se não estivesse consciente, não conhecesse perfeitamente meu estado, não o analisasse com a mais completa lucidez. De fato, devo ser apenas um homem racional, sofrendo uma alucinação. Deve ter surgido em minha mente algum distúrbio desconhecido, um dentre aqueles que os fisiólogos modernos tentam observar e confirmar.
Esse distúrbio deve ter causado profunda brecha na minha mente e na seqüência lógica das idéias. Fenômenos semelhantes acontecem nos sonhos que nos levam a imaginar coisas irreais, sem nos causar surpresa, porque o aparelho de verificação, nosso órgão de controle está adormecido, enquanto a faculdade da imaginação está acordada e ativa.
Esse distúrbio deve ter causado profunda brecha na minha mente e na seqüência lógica das idéias. Fenômenos semelhantes acontecem nos sonhos que nos levam a imaginar coisas irreais, sem nos causar surpresa, porque o aparelho de verificação, nosso órgão de controle está adormecido, enquanto a faculdade da imaginação está acordada e ativa.
Não é possível que uma das imperceptíveis unidades do teclado cerebral tenha ficado paralisada em mim? Alguns homens perdem a lembrança de nomes próprios, de verbos ou números, os simplesmente de datas, como conseqüência de algum acidente.
A localização de todas as variações de pensamento já está estabelecida atualmente. Por que, então, seria surpreendente se minha faculdade de controlar a irrealidade de algumas alucinações estivesse temporariamente adormecida?
A localização de todas as variações de pensamento já está estabelecida atualmente. Por que, então, seria surpreendente se minha faculdade de controlar a irrealidade de algumas alucinações estivesse temporariamente adormecida?
Pensava em tudo isso, enquanto andava pela beira da água. O sol brilhava intensamente sobre o rio e tornava a terra agradável, enchendo-me de amor pela vida, pelas andorinhas cuja agilidade sempre encanta meus olhos, pelas plantas à beira do rio, de cujas folhas o farfalhar é um prazer aos ouvidos. Aos poucos, entretanto, uma indefinível sensação de mal-estar se apossava de mim. Parecia que uma força desconhecida estava me entorpecendo e detendo, impedindo-me de seguir adiante e chamando-me de volta. Senti aquele penoso desejo de voltar que nos oprime quando deixamos um doente querido em casa e somos tomados por um pressentimento de que piorou.
Assim, voltei contra a minha vontade, certo de que encontraria alguma má noticia à espera, talvez uma carta ou telegrama. Não havia nada, e fiquei mais surpreso e inquieto do que se tivesse tido outra visão fantástica.
8 de agosto.
Ontem, passei uma noite horrível. Não se mostra mais, porém, sinto-o perto de mim vigiando-me, olhando-me, penetrando-me, dominando-me, e mais temível quando se oculta dessa forma do que se manifestasse sua presença constante e invisível através de fenômenos sobrenaturais. Entretanto, consegui dormir.
1 de agosto. Nada, mas estou com medo.
10 de agosto. Nada. O que acontecerá amanhã?
11 de agosto. Nada ainda.
Não consigo ficar em casa com este medo pairando sobre mim e estes pensamentos na cabeça. Vou embora.
2 de agosto.
Dez horas da noite. O dia todo tentei partir e não consegui. Gostaria de realizar este simples e fácil ato de liberdade - sair -, entrar em meu carro e partir para Rouen...
E não consigo. Por que razão?
13 de agosto.
Quando somos atacados por certas doenças, todas as molas de nosso corpo parecem estar quebradas, todas as nossas energias, destruídas, todos os nossos músculos, relaxados. Nossos ossos amolecem como carne, e o sangue vira água.
Estou tendo essas sensações em minha existência moral de modo estranho e angustioso. Não tenho mais força, coragem, autocontrole, nem mesmo o poder de exercer minha vontade. Não tenho mais vontade de nada, mas alguém a tem por mim e eu lhe obedeço.
Estou tendo essas sensações em minha existência moral de modo estranho e angustioso. Não tenho mais força, coragem, autocontrole, nem mesmo o poder de exercer minha vontade. Não tenho mais vontade de nada, mas alguém a tem por mim e eu lhe obedeço.
14 de agosto.
Estou perdido. Alguém possui minha alma e a domina. Alguém ordena todos os meus atos, todos os meus movimentos, todos os meus pensamentos.
Não sou mais nada, exceto espectador escravizado e amedrontado de tudo o que faço. Quero sair, não posso. Ele não quer, e assim permaneço trêmulo e perplexo, na poltrona onde ele me mantém sentado. Desejo apenas levantar-me e me animar, mas não posso! Estou preso à cadeira, e esta adere ao chão de tal maneira que não existe força capaz de mover-nos.De repente, sinto que devo, preciso ir ao fundo do quintal colher morangos e comê-los, e lá vou eu. Colho os morangos e como-os! Meu Deus! Meu Deus! Deus existe?
Se existe, libertai-me! Salvai-me! Socorrei-me! Perdão! Piedade! Misericórdia! Salvai-me! Quanto sofrimento! Que tormento! Que horror!
15 de agosto.
Então era desse modo que minha pobre prima se encontrava, e era controlada, quando veio pedir-me os cinco mil francos emprestados. Estava sob o poder de uma estranha vontade que entrara dentro dela, como outra alma, como outra alma parasita e dominadora. Será que o mundo está para acabar?
Mas quem é ele, este ser invisível que me governa?
Este ser irreconhecível, este pirata de raça sobrenatural?
Existem, então, seres invisíveis!
Por que não se manifestaram desde o começo do mundo, precisamente como fazem comigo?
Nunca li nada parecido com o que acontece em minha casa. Oh, se pudesse deixá-la, se pudesse ir embora, fugir e nunca mais voltar! Estaria salvo, mas não posso.
Mas quem é ele, este ser invisível que me governa?
Este ser irreconhecível, este pirata de raça sobrenatural?
Existem, então, seres invisíveis!
Por que não se manifestaram desde o começo do mundo, precisamente como fazem comigo?
Nunca li nada parecido com o que acontece em minha casa. Oh, se pudesse deixá-la, se pudesse ir embora, fugir e nunca mais voltar! Estaria salvo, mas não posso.
16 de agosto. Hoje consegui escapar por duas horas, como um prisioneiro que, por acaso, encontra a porta da masmorra aberta. De repente, senti que estava livre e que ele estava muito longe; assim, dei ordens para atrelar os cavalos o mais depressa possível e partir para Rouen. Como é agradável conseguir dizer a um homem que nos obedece:
- Vá... A Rouen!
Mandei parar em frente à biblioteca e pedi que me emprestassem o tratado do Dr. Hermann Herestauss sobre os habitantes desconhecidos do mundo antigo e moderno.
Ao voltar para o coche, pretendia dizer: "Para a estação!", em vez disso gritei... Não disse, gritei, tão alto que os passantes voltaram-se:
- Para casa! - e caí para trás, na almofada do carro, tomado de angústia. Ele voltara a me encontrar e retomara a posse de mim.
17 de agosto.
Ah, que noite! Que noite! E, contudo parece-me que devia alegrar-me.
Li até a uma da manhã! Herestauss, doutor em Filosofia e Teogonia, escreveu na história da manifestação todos esses seres invisíveis que pairam em volta dos homens ou com quem os homens sonham.
Descreve sua origem, domínio, poder, mas nenhum se assemelha ao que me assedia.
Pode-se dizer que, desde que começou a pensar, o homem pressente um novo ser, mais forte, seu sucessor neste novo mundo e que, sentindo sua presença e não conseguindo prever a natureza desse mestre, criaram toda uma raça de seres ocultos, de vagos fantasmas, nascidos do medo.
Descreve sua origem, domínio, poder, mas nenhum se assemelha ao que me assedia.
Pode-se dizer que, desde que começou a pensar, o homem pressente um novo ser, mais forte, seu sucessor neste novo mundo e que, sentindo sua presença e não conseguindo prever a natureza desse mestre, criaram toda uma raça de seres ocultos, de vagos fantasmas, nascidos do medo.
Depois de ler até a uma da manhã, sentei-me à janela aberta, a fim de refrescar a fronte e os pensamentos, no ar calmo da noite agradável e quente.
Como teria apreciado semelhante noite em outros tempos!
Não havia lua, mas as estrelas lançavam sua luz no céu escuro. Quem habita esses mundos? Que formas, que seres vivos, que animais existem lá em cima? O que sabem os pensadores naqueles mundos distantes que não sabemos? O que podem fazer, e nós não? O que vêem que não conhecemos? Será que um deles, algum dia, atravessando o espaço, aparecerá na Terra para conquistá-la, exatamente como os escandinavos cruzaram o mar a fim de conquistar nações mais fracas do que eles?
Como teria apreciado semelhante noite em outros tempos!
Não havia lua, mas as estrelas lançavam sua luz no céu escuro. Quem habita esses mundos? Que formas, que seres vivos, que animais existem lá em cima? O que sabem os pensadores naqueles mundos distantes que não sabemos? O que podem fazer, e nós não? O que vêem que não conhecemos? Será que um deles, algum dia, atravessando o espaço, aparecerá na Terra para conquistá-la, exatamente como os escandinavos cruzaram o mar a fim de conquistar nações mais fracas do que eles?
Somos tão fracos, tão indefesos, tão ignorantes, tão pequenos, nós que vivemos nesta partícula de lama que gira em uma gota de água!
Adormeci assim, sonhando no fresco ar da noite, e depois de dormir cerca de três quartos de hora abri os olhos sem me mexer, acordado por não sei que confusa e estranha sensação.
A princípio não vi nada, mas de repente tive a impressão de que uma página do livro que ficara aberto sobre a mesa virou-se sozinha. Nenhuma aragem passara pela janela, por isso, surpreso, esperei.
Depois de uns quatro minutos, eu vi, eu vi, sim, vi com meus próprios olhos, outra página levantar-se e cair sobre as outras, como se um dedo a tivesse virado. A poltrona estava vazia, parecia vazia, mas sabia que ele estava lá. Sentado em meu lugar e lendo. Com um pulo, o pulo furioso de um animal selvagem enraivecido, que salta sobre o domador, atravessou a sala para agarrá-lo, estrangulá-lo, matá-lo!
Porém, antes que pudesse alcançá-la, a cadeira virou-se como se alguém tivesse fugido de mim...
A mesa balançou, a lâmpada caiu e se apagou e a janela fechou-se, como se um ladrão tivesse sido surpreendido e fugido noite afora, fechando-a atrás de si.
Adormeci assim, sonhando no fresco ar da noite, e depois de dormir cerca de três quartos de hora abri os olhos sem me mexer, acordado por não sei que confusa e estranha sensação.
A princípio não vi nada, mas de repente tive a impressão de que uma página do livro que ficara aberto sobre a mesa virou-se sozinha. Nenhuma aragem passara pela janela, por isso, surpreso, esperei.
Depois de uns quatro minutos, eu vi, eu vi, sim, vi com meus próprios olhos, outra página levantar-se e cair sobre as outras, como se um dedo a tivesse virado. A poltrona estava vazia, parecia vazia, mas sabia que ele estava lá. Sentado em meu lugar e lendo. Com um pulo, o pulo furioso de um animal selvagem enraivecido, que salta sobre o domador, atravessou a sala para agarrá-lo, estrangulá-lo, matá-lo!
Porém, antes que pudesse alcançá-la, a cadeira virou-se como se alguém tivesse fugido de mim...
A mesa balançou, a lâmpada caiu e se apagou e a janela fechou-se, como se um ladrão tivesse sido surpreendido e fugido noite afora, fechando-a atrás de si.
Então ele fugira. Tivera medo, medo de mim!
Mas, mas... Amanhã, ou mais tarde... Algum dia, conseguirei agarrá-lo e esmagá-lo contra o chão! Às vezes os cães não mordem e estraçalham o dono?
Mas, mas... Amanhã, ou mais tarde... Algum dia, conseguirei agarrá-lo e esmagá-lo contra o chão! Às vezes os cães não mordem e estraçalham o dono?
18 de agosto. Estive pensando o dia todo. Sim, vou obedecer-lhe, seguir seus impulsos, realizar seus desejos, mostrar-me humilde, submisso, covarde. Ele é o mais forte, mas há de chegar à hora...
19 de agosto.
Eu sei... Eu sei... Eu sei tudo!
Acabei de ler o seguinte, na Revue du Monde Scientifique: "Curiosa noticia chega-nos do Rio de Janeiro. Loucura, uma epidemia de loucura, comparável à loucura contagiosa que atacou a população da Europa, na Idade Média, está, neste momento, grassando na província de São Paulo. Os habitantes, aterrorizados, abandonam suas casas, dizendo que estão sendo perseguidos, possuídos, dominados como gado humano por seres invisíveis, mas tangíveis, uma espécie de vampiro, que se alimenta da vida deles enquanto estão dormindo, e que, além disso, bebe água e leite, sem aparentemente tocar nenhum outro alimento."O professor Pedro Henrique, acompanhado por vários médicos, foi à província de São Paulo, a fim de estudar a origem e as manifestações dessa surpreendente loucura, no local, e propor ao imperador as medidas que lhe pareçam mais cabíveis para fazer com que a população recupere a razão."Ah! ah! lembro-me agora daquele belo navio brasileiro de três mastros que passou em frente às minhas janelas, subindo o Sena no dia 8 de maio passado! Achei que parecia tão formoso, tão branco e brilhante!
Aquele Ente estava a bordo, vindo de lá, onde sua raça se originou.
E me viu!
Viu minha casa, também branca, e saltou do navio para terra. Oh, céu misericordioso!
Acabei de ler o seguinte, na Revue du Monde Scientifique: "Curiosa noticia chega-nos do Rio de Janeiro. Loucura, uma epidemia de loucura, comparável à loucura contagiosa que atacou a população da Europa, na Idade Média, está, neste momento, grassando na província de São Paulo. Os habitantes, aterrorizados, abandonam suas casas, dizendo que estão sendo perseguidos, possuídos, dominados como gado humano por seres invisíveis, mas tangíveis, uma espécie de vampiro, que se alimenta da vida deles enquanto estão dormindo, e que, além disso, bebe água e leite, sem aparentemente tocar nenhum outro alimento."O professor Pedro Henrique, acompanhado por vários médicos, foi à província de São Paulo, a fim de estudar a origem e as manifestações dessa surpreendente loucura, no local, e propor ao imperador as medidas que lhe pareçam mais cabíveis para fazer com que a população recupere a razão."Ah! ah! lembro-me agora daquele belo navio brasileiro de três mastros que passou em frente às minhas janelas, subindo o Sena no dia 8 de maio passado! Achei que parecia tão formoso, tão branco e brilhante!
Aquele Ente estava a bordo, vindo de lá, onde sua raça se originou.
E me viu!
Viu minha casa, também branca, e saltou do navio para terra. Oh, céu misericordioso!
Agora sei, posso adivinhar. O reino do homem acabou, e ele chegou. Ele, que era temido pelo homem primitivo, ele, que padres preocupados exorcizavam, que feiticeiras evocavam em noites escuras, sem tê-lo visto aparecer, a quem a imaginação dos senhores provisórios do mundo emprestavam todas as monstruosas ou graciosas formas de gnomos, espíritos, gênios, fadas e almas familiares. Depois dos conceitos imprecisos baseados no medo primitivo, homens mais sensíveis anteviram-no mais claramente Mesmer o pressentiu, e, há dez anos, médicos descobriram, com precisão, a natureza de sua força, antes mesmo que ele a exercesse. Divertiram-se com essa nova arma do Senhor, o domínio de uma vontade misteriosa sobre a alma humana que se tornara escrava.Chamaram-no de magnetismo, hipnotismo, sugestão... sei lá! Vejo-os divertindo-se, como crianças imprudentes, com essa força terrível!
Ai de nós! Ai dos homens!
Ele chegou o... O... Como se chama... O...
Imagino que está gritando seu nome e não consigo ouvi-lo... o... Sim... Está gritando... Estou ouvindo... Não consigo... Ele o repete... o... Horla... ou,... o Horla... Ele chegou!
Ah! O abutre devorou a pomba, o lobo devorou o cordeiro, o leão devorou o búfalo de chifres pontiagudos. O homem matou o leão com a flecha, com a espada, com a pólvora. Mas o Horla fará do homem o que fizemos do cavalo e do boi: objeto, escravo e alimento, só porque é sua vontade. Ai de nós! Contudo, às vezes, o animal revolta-se e mata o homem que o subjugou.
Ai de nós! Ai dos homens!
Ele chegou o... O... Como se chama... O...
Imagino que está gritando seu nome e não consigo ouvi-lo... o... Sim... Está gritando... Estou ouvindo... Não consigo... Ele o repete... o... Horla... ou,... o Horla... Ele chegou!
Ah! O abutre devorou a pomba, o lobo devorou o cordeiro, o leão devorou o búfalo de chifres pontiagudos. O homem matou o leão com a flecha, com a espada, com a pólvora. Mas o Horla fará do homem o que fizemos do cavalo e do boi: objeto, escravo e alimento, só porque é sua vontade. Ai de nós! Contudo, às vezes, o animal revolta-se e mata o homem que o subjugou.
Eu também gostaria de... Serei capaz de... Mas preciso conhecê-lo, tocá-lo, vê-lo! Os cientistas afirmam que os olhos dos animais, sendo diferentes dos nossos, não distinguem os objetos da mesma forma que nós. E meus olhos não conseguem distinguir esse recém-chegado que me oprime.Por quê? Agora me lembro das palavras do monge do Mont-Saint-Michel: "Será que vemos a centésima milionésima parte do que existe? Veja, lá está o vento, a maior força da natureza, que derruba homens e edifícios, desenraiza árvores, faz o mar erguer-se como montanhas de água, destrói penhascos e joga grandes navios contra as ondas. O vento que mata, que assobia, que suspira, que ruge... já o viu? Consegue vê-lo? Contudo, ele existe".
E continuei a pensar: "Meus olhos são tão fracos, tão imperfeitos, que nem mesmo distinguem corpos sólidos, se estes forem transparentes como o vidro! Se não houver um papel prateado atrás de um vidro em meu caminho, colidirei com ele, da mesma forma que um pássaro, voando para dentro de uma sala, bate a cabeça contra a vidraça".
Existem mil coisas que enganam o homem e o induzem ao erro.
Por que haveria de ser surpreendente o fato de não conseguir perceber um corpo desconhecido que a luz consegue atravessar?
Um novo ser! Por que não?
Com certeza estava destinado a vir! Por que deveríamos ser os últimos?
Não o distinguimos mais do que todos os outros criados antes de nós! Isso acontece porque sua natureza é mais perfeita, tem o corpo mais apurado e mais bem acabado que o nosso, tão fraco, de construção tão desajeitada, atravancado de órgãos que estão sempre cansados, sempre tenso como um mecanismo muito complicado, que vive como planta e como animal, nutrindo-se com dificuldade de ar, ervas e carne, máquina animal vitima de doenças, má-formação, decadência; arquejante, mal-regulado, simples e extravagante, originalmente malfeito, obra ao mesmo tempo grosseira e delicada, esboço irregular de uma criatura que poderia tornar-se inteligente e grandiosa.
Existem mil coisas que enganam o homem e o induzem ao erro.
Por que haveria de ser surpreendente o fato de não conseguir perceber um corpo desconhecido que a luz consegue atravessar?
Um novo ser! Por que não?
Com certeza estava destinado a vir! Por que deveríamos ser os últimos?
Não o distinguimos mais do que todos os outros criados antes de nós! Isso acontece porque sua natureza é mais perfeita, tem o corpo mais apurado e mais bem acabado que o nosso, tão fraco, de construção tão desajeitada, atravancado de órgãos que estão sempre cansados, sempre tenso como um mecanismo muito complicado, que vive como planta e como animal, nutrindo-se com dificuldade de ar, ervas e carne, máquina animal vitima de doenças, má-formação, decadência; arquejante, mal-regulado, simples e extravagante, originalmente malfeito, obra ao mesmo tempo grosseira e delicada, esboço irregular de uma criatura que poderia tornar-se inteligente e grandiosa.
Somos apenas alguns, tão poucos neste mundo, da ostra ao homem.
Por que não poderia haver mais um, uma vez passada a época que separa as sucessivas aparições de todas as espécies diferentes?
Por que não mais um? Por que não, também, outras árvores com flores imensas e esplêndidas, perfumando regiões inteiras?
Por que não outros elementos além do fogo, ar, terra e água?
Existem quatro, só quatro, amas-secas de seres diferentes! Que pena! Por que não existem quarenta, quatrocentos, quatro mil? Como tudo é pobre, mesquinho e miserável!
Por que não poderia haver mais um, uma vez passada a época que separa as sucessivas aparições de todas as espécies diferentes?
Por que não mais um? Por que não, também, outras árvores com flores imensas e esplêndidas, perfumando regiões inteiras?
Por que não outros elementos além do fogo, ar, terra e água?
Existem quatro, só quatro, amas-secas de seres diferentes! Que pena! Por que não existem quarenta, quatrocentos, quatro mil? Como tudo é pobre, mesquinho e miserável!
Produzido de má vontade, construído irregularmente, inabilmente feito! Ah, o elefante e o hipopótamo, que graça! E o camelo, que elegância! Mas a borboleta, dirão, uma flor voadora? Sonho com uma tão grande como cem universos, com asas cuja forma, beleza, e movimentos não consigo nem mesmo exprimir. Porém a vejo... esvoaça de uma estrela a outra, refrescando-as e perfumando-as com a aragem leve e harmoniosa de seu vôo! E as pessoas lá em cima olham-na quando passa em um êxtase de prazer!
O que está acontecendo comigo? É ele, o Horla, que me persegue e que me faz pensar essas tolices! Está dentro de mim, está se transformando em minha alma. Pretendo matá-lo!
19 de agosto.
Vou matá-lo. Eu o vi! Ontem, sentei-me à mesa e fingi escrever com bastante atenção.
Sabia muito bem que viria rondar-me, bem perto de mim, tão perto que, talvez, conseguisse, tocá-lo, agarrá-lo. E então... Então eu conseguiria a força do desespero. Teria as mãos, os joelhos, o peito, a fronte, os dentes para estrangulá-lo, esmagá-lo, morde-lo, fazê-lo em pedaços.
E o aguardava com todos os sentidos alerta. Acendera as duas lâmpadas e as oito velas de cera sobre a lareira, como se com toda essa luz pudesse descobri-lo.
Sabia muito bem que viria rondar-me, bem perto de mim, tão perto que, talvez, conseguisse, tocá-lo, agarrá-lo. E então... Então eu conseguiria a força do desespero. Teria as mãos, os joelhos, o peito, a fronte, os dentes para estrangulá-lo, esmagá-lo, morde-lo, fazê-lo em pedaços.
E o aguardava com todos os sentidos alerta. Acendera as duas lâmpadas e as oito velas de cera sobre a lareira, como se com toda essa luz pudesse descobri-lo.
À minha frente, estava à cama, a velha cama de colunas de carvalho; à direita, a lareira; à esquerda, a porta, fechada cuidadosamente, depois que a deixei aberta algum tempo, a fim de atraí-lo; atrás de mim, estava o guarda-roupa, muito alto, com o espelho diante do qual fazia a barba e me vestia todos os dias e no qual costumava ver-me de relance, da cabeça aos pés, toda vez que passava diante dele.
Fingia estar escrevendo a fim de enganá-lo, pois ele também me vigiava e, de repente, senti... Tinha certeza de que estava lendo por cima de meu ombro, que estava lá, roçando minha orelha.
Levantei-me com as mãos estendidas e virei-me tão depressa que quase caí. Quê! Bem?
Estava claro como se fosse o meio-dia, mas não conseguia ver meu reflexo no espelho!
Estava vazio, claro, profundo, cheio de luz!
Só que minha imagem não estava refletida nele... E eu, eu estava na frente do espelho!
Examinei o grande e claro espelho, de cima a baixo, olhei-o com olhos vacilantes. Não ousei aproximar-me, não me arrisquei a fazer um movimento sequer, sentindo que ele estava ali, mas que novamente me escapara, ele cujo corpo imperceptível absorvera meu reflexo.
Estava claro como se fosse o meio-dia, mas não conseguia ver meu reflexo no espelho!
Estava vazio, claro, profundo, cheio de luz!
Só que minha imagem não estava refletida nele... E eu, eu estava na frente do espelho!
Examinei o grande e claro espelho, de cima a baixo, olhei-o com olhos vacilantes. Não ousei aproximar-me, não me arrisquei a fazer um movimento sequer, sentindo que ele estava ali, mas que novamente me escapara, ele cujo corpo imperceptível absorvera meu reflexo.
Como eu estava amedrontado! E então, subitamente, comecei a ver-me através de uma névoa no fundo do espelho, uma névoa que parecia um lençol de água. Parecia-me que a água escorria mais clara a todo o momento.
Era como o fim de um eclipse. O que quer que ocultasse na imagem não parecia possuir contornos definidos, mas uma espécie de transparência opaca que ia clareando aos poucos.
Afinal, consegui distinguir meu reflexo completamente, como acontece todos os dias quando me olho no espelho.
Era como o fim de um eclipse. O que quer que ocultasse na imagem não parecia possuir contornos definidos, mas uma espécie de transparência opaca que ia clareando aos poucos.
Afinal, consegui distinguir meu reflexo completamente, como acontece todos os dias quando me olho no espelho.
Eu o vira! O horror dessa visão ficou comigo e, mesmo agora, faz-me tremer.
20 de agosto.
Como poderia matá-lo, se não consegui agarrá-lo? Veneno? Mas ele me veria misturá-lo à água, e então teria nosso veneno algum efeito em seu corpo impalpável? Não... Não há dúvida sobre isso... Então... Então...
21 de agosto.
Chamei um ferreiro de Rouen e encomendei venezianas de ferro para meu quarto, iguais às que alguns hotéis de Paris têm no andar térreo, para impedir a entrada de ladrões, e ele também vai fazer-me uma porta de ferro. Estou parecendo covarde, mas não me importo!
10 de setembro. Rouen, Hotel Continental. Está feito... Está feito... Mas será que está morto?
O que vi deixou-me a mente completamente abalada.Bem, ontem, depois que o serralheiro colocou as venezianas e a porta de ferro, deixei tudo aberto até a meia-noite, embora estivesse esfriando.
O que vi deixou-me a mente completamente abalada.Bem, ontem, depois que o serralheiro colocou as venezianas e a porta de ferro, deixei tudo aberto até a meia-noite, embora estivesse esfriando.
De repente, senti que ele estava lá, e uma alegria, uma louca alegria apossou-se de mim.
Levantei-me silenciosamente e andei algum tempo de um lado para outro, para que ele não suspeitasse de nada. Tirei as botas e calcei os chinelos despreocupadamente, fechei as venezianas de ferro, fui até a porta, tranquei-a rapidamente com um cadeado e guardei a chave no bolso.
Percebi de súbito que ele se movia nervosamente a minha volta, que, por sua vez, estava amedrontado e ordenava-me que o deixasse sair.
Quase lhe obedeci.
Em vez disso, entretanto, com as costas contra a porta, abri-a apenas o suficiente para poder sair de costas e, como sou muito alto toquei a esquadria com a cabeça. Estava certo de que ele não tinha conseguido escapar e deixei-o fechado sozinho, completamente sozinho. Que felicidade! Conseguira prende-lo. Então corri para baixo, para a sala de visitas que ficava embaixo do meu quarto. Peguei os dois lampiões e despejei todo o querosene no tapete, na mobília, em toda parte.
Toquei fogo e fugi, depois de trancar cuidadosamente a porta.Escondi-me no fundo do quintal, em uma moita de louros. Como parecia demorar!
Tudo estava escuro, silencioso, imóvel, sem a mais leve brisa, sem uma estrela, somente camadas de nuvens, que não se podia ver, mas que pesavam, oh, como pesavam, em minha alma. esperando, olhando para a casa. Como demorava!
Começava a pensar que o fogo se apagara sozinho, ou que ele o extinguira, quando uma das janelas do andar térreo cedeu sob a violência das chamas e uma longa, suave, acariciante e rubra língua de fogo subiu pela parede branca e envolveu-a até o telhado. O clarão atingiu as árvores, os galhos e as folhas, e um arrepio de medo também os invadiu!
Os pássaros acordaram, um cachorro começou a uivar, e pareceu-me que o dia estava nascendo!
Quase imediatamente, duas outras janelas se arrebentaram e vi que toda a parte de baixo da casa era apenas uma fornalha incandescente. Um grito, horrível, estridente, de partir o coração, um grito de mulher, soou dentro da noite, e duas janelas do sótão se abriram!
Esquecera-me dos criados!
Vi os rostos apavorados e os braços agitando-se freneticamente.
Tomado de pavor, comecei a correr para a cidade, gritando:
Percebi de súbito que ele se movia nervosamente a minha volta, que, por sua vez, estava amedrontado e ordenava-me que o deixasse sair.
Quase lhe obedeci.
Em vez disso, entretanto, com as costas contra a porta, abri-a apenas o suficiente para poder sair de costas e, como sou muito alto toquei a esquadria com a cabeça. Estava certo de que ele não tinha conseguido escapar e deixei-o fechado sozinho, completamente sozinho. Que felicidade! Conseguira prende-lo. Então corri para baixo, para a sala de visitas que ficava embaixo do meu quarto. Peguei os dois lampiões e despejei todo o querosene no tapete, na mobília, em toda parte.
Toquei fogo e fugi, depois de trancar cuidadosamente a porta.Escondi-me no fundo do quintal, em uma moita de louros. Como parecia demorar!
Tudo estava escuro, silencioso, imóvel, sem a mais leve brisa, sem uma estrela, somente camadas de nuvens, que não se podia ver, mas que pesavam, oh, como pesavam, em minha alma. esperando, olhando para a casa. Como demorava!
Começava a pensar que o fogo se apagara sozinho, ou que ele o extinguira, quando uma das janelas do andar térreo cedeu sob a violência das chamas e uma longa, suave, acariciante e rubra língua de fogo subiu pela parede branca e envolveu-a até o telhado. O clarão atingiu as árvores, os galhos e as folhas, e um arrepio de medo também os invadiu!
Os pássaros acordaram, um cachorro começou a uivar, e pareceu-me que o dia estava nascendo!
Quase imediatamente, duas outras janelas se arrebentaram e vi que toda a parte de baixo da casa era apenas uma fornalha incandescente. Um grito, horrível, estridente, de partir o coração, um grito de mulher, soou dentro da noite, e duas janelas do sótão se abriram!
Esquecera-me dos criados!
Vi os rostos apavorados e os braços agitando-se freneticamente.
Tomado de pavor, comecei a correr para a cidade, gritando:
- Socorro! Socorro! Fogo! Fogo! Encontrei algumas pessoas que já vinham correndo e voltei com elas.
Nessas alturas, a casa não era mais que uma horrível e imponente pira funerária, monstruosa pira funerária que iluminava tudo, pira funerária onde homens ardiam, e ele também estava sendo queimado.
Ele, ele, meu prisioneiro, o novo Ser, o novo Senhor, o Horla!
De repente, o telhado desabou entre as paredes, e um vulcão de chamas voou até o céu.
Pelas janelas abertas naquela fornalha, vi as chamas disparando e pensei que ele estivesse lá, naquele forno, morto.
Ele, ele, meu prisioneiro, o novo Ser, o novo Senhor, o Horla!
De repente, o telhado desabou entre as paredes, e um vulcão de chamas voou até o céu.
Pelas janelas abertas naquela fornalha, vi as chamas disparando e pensei que ele estivesse lá, naquele forno, morto.
Morto? Talvez?... Seu corpo? Não seria seu corpo, transparente, indestrutível pelos meios que conseguiam matar os nossos?
E se ele não estivesse morto?... Talvez só o tempo tenha poder sobre esse Ser Invisível e Terrível.
Qual a razão desse corpo transparente e irreconhecível, esse corpo pertencente a um espírito, se também tem de temer doenças, fraquezas e ruína prematura?
E se ele não estivesse morto?... Talvez só o tempo tenha poder sobre esse Ser Invisível e Terrível.
Qual a razão desse corpo transparente e irreconhecível, esse corpo pertencente a um espírito, se também tem de temer doenças, fraquezas e ruína prematura?
Ruína prematura?
Todo o terror humano tem aí sua origem! Depois do homem, o Horla. Depois daquele que pode morrer todo dia, a toda hora, a todo o momento, de qualquer acidente, veio o que morreria apenas na hora, no dia e no minuto apropriado, porque tocara os limites de sua própria existência!
Não, não...
Sem dúvida, não está morto...
Então...
Então...
acho que terei de me matar!...
Todo o terror humano tem aí sua origem! Depois do homem, o Horla. Depois daquele que pode morrer todo dia, a toda hora, a todo o momento, de qualquer acidente, veio o que morreria apenas na hora, no dia e no minuto apropriado, porque tocara os limites de sua própria existência!
Não, não...
Sem dúvida, não está morto...
Então...
Então...
acho que terei de me matar!...
.........................................................................................................................................
Henry René Albert Guy de Maupassant, 05/08/1959 -6/07/1883, foi um escritor, poeta e um dos maiores contistas de todos os tempos. Sua obra é conhecida por retratar situações psicológicas e fazer crítica social com técnica naturalista. Entre 1875 e 1885, produziu a maior parte de seus romances e contos. Escreveu pelo menos 300 histórias curtas, muitas das quais se tornaram mundialmente conhecidas, como Bola de Sebo, O Colar, Uma Aventura Parisiense, Mademoiselle Fifi, Miss Harriett e O Horla considerado por muitos como sua obra prima.
Em 1882, Guy de Maupassant tentou o suicídio. Morreu no ano seguinte, em um manicômio, aos 43 anos de idade. Foi enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris.
Assinar:
Postagens (Atom)